Especialistas alertam que ganhos com IA não devem obscurecer impactos psicológicos e sociais sobre os times A expectativa em torno da inteligência artificial (IA) nas empresas é grande, especialmente quando se trata de produtividade. Estudos recentes indicam que ferramentas baseadas em IA generativa podem elevar em até 25% o desempenho das equipes. Mas essa empolgação tem um contraponto: o impacto da tecnologia na motivação, no relacionamento interpessoal e na saúde emocional dos trabalhadores. Pesquisadores têm observado que, embora os resultados objetivos melhorem, há efeitos colaterais que líderes e gestores não podem ignorar. Entre eles, queda de engajamento, aumento do tédio, perda de conexões sociais e até um possível declínio na criatividade coletiva. Queda na motivação e aumento do tédio Um estudo realizado com 3.500 profissionais mostrou que o uso de IA, apesar de acelerar tarefas, reduz a motivação intrínseca dos funcionários. Após interações com ferramentas de IA, os participantes relataram, em média, 11% menos engajamento e um aumento de 20% na sensação de tédio ao retornar a atividades não automatizadas. Segundo os pesquisadores, isso acontece porque a IA, ao tornar os processos mais automáticos, também reduz o sentimento de protagonismo e realização pessoal. Tarefas realizadas com apoio da IA são vistas como menos desafiadoras, o que diminui o envolvimento emocional do trabalhador. Relações interpessoais também são afetadas Outro estudo, conduzido pela Microsoft com mais de 30 mil profissionais em 31 países, revelou que muitos trabalhadores preferem usar IA para evitar interações humanas. Motivações como medo de julgamento, desejo de privacidade e menor necessidade de explicações tornam as ferramentas atrativas, mas podem comprometer a saúde dos relacionamentos no ambiente corporativo. Esse comportamento reforça uma tendência de isolamento, que pode prejudicar habilidades sociais, empatia e trabalho em equipe — elementos essenciais em qualquer organização. Solidão e efeitos colaterais preocupam Pesquisas também apontam uma possível ligação entre o uso excessivo de IA e sentimentos de solidão. Estudos conduzidos por universidades como o MIT indicam que quanto mais os profissionais interagem com tecnologias automatizadas, maior tende a ser a sensação de desconexão social. Esse distanciamento tem consequências práticas: aumento do consumo de álcool, pior qualidade do sono e queda no bem-estar geral. Em longo prazo, isso pode se refletir em queda de performance e aumento da rotatividade nas empresas. IA impulsiona ideias, mas reduz originalidade coletiva A criatividade também entra na lista de áreas impactadas. Ferramentas de IA ajudam indivíduos — especialmente os com menor desempenho — a gerar mais ideias. No entanto, uma análise publicada na revista Science Advances mostrou que, apesar do aumento na quantidade de ideias, houve uma queda na diversidade das soluções. Ou seja, os conteúdos produzidos se tornaram mais homogêneos. A padronização pode minar a inovação coletiva, deixando as equipes mais eficientes, porém menos ousadas. O desafio da liderança responsável Para especialistas, abandonar o uso de IA não é a resposta. A tecnologia oferece benefícios reais e duradouros. Mas é preciso equilibrar os ganhos de produtividade com ações concretas voltadas ao bem-estar dos colaboradores. Implementar IA de forma responsável exige escuta ativa, revisão de processos e atenção às dinâmicas humanas. A tecnologia pode transformar as empresas — mas, sem cuidado, também pode desumanizá-las. Para garantir resultados sustentáveis, os líderes devem considerar não apenas o desempenho, mas também o impacto emocional e social das ferramentas que escolhem adotar.