Liderança não é ser gostado o tempo todo. É sustentar escolhas que protegem o time, o cliente e o negócio Pouca gente entra em uma posição de liderança querendo desagradar. A maioria quer ser justa, respeitada, colaborativa. Só que existe um ponto em que liderança e aprovação entram em conflito. Em momentos de pressão, o trabalho exige escolhas que nem sempre vão ser bem recebidas: dizer não, cortar escopo, priorizar um projeto e adiar outro, corrigir um comportamento, proteger um limite. A tentação é suavizar tudo para evitar desconforto. E é aí que a liderança começa a falhar. Equipes funcionam melhor quando percebem consistência e critérios claros nas decisões, mesmo quando discordam do resultado. O que destrói confiança não é a decisão impopular. É a sensação de arbitrariedade, o vai e volta e a tentativa de agradar todos ao mesmo tempo. O desejo de ser querido vira ambiguidade Quando o líder quer evitar reação, ele costuma tomar decisões pela metade. Não diz não com clareza, deixa portas abertas, promete revisar sem data, cria exceções para apaziguar. A equipe entende o recado: nada é definitivo. O problema é que, sem definitividade, ninguém consegue planejar, priorizar ou se comprometer de verdade. A ambiguidade também cria política. Se a decisão não é clara, as pessoas tentam reabrir o tema por outros caminhos. Reuniões repetem, chats inflam, a pauta volta e volta. O líder se sente pressionado e cede mais, reforçando o ciclo. O time aprende a insistir em vez de construir. Decisões impopulares podem ser um ato de cuidado Existe uma diferença entre dureza e contorno. Decisão impopular não precisa ser insensível. Muitas vezes, ela é a única forma de proteger o time de um sistema injusto ou caótico. Dizer não para um pedido fora de hora pode preservar o foco coletivo. Cortar uma iniciativa pode evitar retrabalho. Corrigir um comportamento tóxico pode impedir que a cultura apodreça. A equipe nem sempre vai gostar da decisão no momento. Mas tende a respeitar quando percebe coerência. Pessoas adultas lidam com frustração. O que elas não suportam por muito tempo é a sensação de que o jogo muda conforme humor, pressão ou proximidade. Como decidir sem virar autoritário O primeiro passo é explicitar critério. 'Estamos priorizando impacto no cliente', 'precisamos proteger margem', 'este trimestre é sobre estabilidade', 'neste caso, qualidade vale mais do que velocidade'. Critério tira a decisão do campo pessoal e coloca no campo do negócio. Também reduz a leitura de favoritismo. O segundo passo é nomear trade-offs. Se algo entra, algo sai. Se você não diz o que sai, o time entende que precisa fazer tudo, e isso vira desgaste. Trade-off é respeito pela capacidade da equipe. E capacidade é finita, mesmo em times excelentes. O jeito de comunicar muda a reação Decisões impopulares explodem quando são comunicadas como surpresa. Por isso, vale preparar o terreno: sinalizar riscos, explicar contexto e dar previsibilidade. Outra prática útil é separar empatia de concessão. Você pode validar a frustração sem voltar atrás. 'Entendo que isso é chato' não precisa virar 'então vamos fazer do seu jeito'. Por fim, feche o combinado com clareza: o que foi decidido, a partir de quando vale e como será revisado. Sem fechamento, o assunto vira fantasma. No fim, liderança não é ser gostado o tempo todo. É sustentar escolhas que protegem o time, o cliente e o negócio, mesmo quando isso gera desconforto. A pergunta que fica é simples e poderosa: você está evitando o incômodo de hoje ou evitando a crise de amanhã?