Assumir que 'todo mundo sabe o que fazer' é confortável para quem delega, mas caro para quem executa Em muitas empresas, existe uma crença confortável: 'já está claro', 'todo mundo sabe', 'não precisa desenhar'. Ela surge quando o time é experiente, quando o assunto é recorrente ou quando a pressão por velocidade é alta. O problema é que essa ilusão cobra um preço silencioso. Quando se presume entendimento, o alinhamento vira aposta. E apostas costumam falhar. Falhas de execução estão menos ligadas à falta de competência e mais à ambiguidade de expectativas, porque pessoas interpretam instruções a partir de referências diferentes. O maior inimigo da performance não é a complexidade. É o implícito. O implícito cria versões paralelas da mesma tarefa Quando ninguém explicita objetivo, critério e prioridade, cada pessoa preenche o vazio com seu próprio modelo mental. Um entende que o foco é velocidade, outro entende que é qualidade. Um acha que é versão final, outro acha que é rascunho. Todos estão certos dentro da própria lógica. O erro só aparece quando as entregas se encontram. Esse tipo de desalinhamento é frustrante porque não parece erro técnico. Parece descuido, desatenção ou falta de compromisso. Mas, na maioria das vezes, é apenas falta de desenho claro. A experiência não elimina a necessidade de clareza Existe a ideia de que times seniores 'não precisam de combinado'. Precisam, sim. Talvez até mais. Quanto mais repertório alguém tem, mais interpretações possíveis carrega. Experiência amplia nuance. Sem critério explícito, a nuance vira ruído. Além disso, o contexto muda. Prioridades mudam, pressão muda, riscos mudam. O que era óbvio há três meses pode não ser mais. Quando a liderança não atualiza o trilho, o time continua andando por mapas antigos. O custo invisível: retrabalho e desgaste emocional Quando a entrega volta com correção, o time se sente injustiçado. 'Ninguém falou que era assim.' O líder se irrita. 'Era óbvio.' A relação se desgasta sem necessidade. Retrabalho consome tempo. Frustração consome energia. Esse padrão repetido cria um ambiente defensivo. As pessoas começam a pedir confirmação para tudo ou, no extremo oposto, param de se importar com ajuste fino. Nenhuma das duas opções é boa para Negócios. O que precisa ser explícito sempre Três coisas raramente podem ficar implícitas. Objetivo: para que isso existe? Que problema resolve? Critério: o que define uma boa entrega? O que não pode faltar? Prioridade: o que vem primeiro se houver conflito de tempo ou escopo? Quando essas três coisas estão claras, a autonomia aumenta. Quando não estão, a autonomia vira risco. Como sair da ilusão sem burocratizar Clareza não exige documentos longos. Muitas vezes, uma frase resolve: 'o objetivo aqui é X, mesmo que custe Y'. Ou 'prefiro rápido a perfeito neste caso'. Ou 'isso é versão final, não rascunho'. Outra prática simples é checar entendimento no início, não no fim. 'O que você entendeu como entrega?' Essa pergunta evita horas de correção depois. No fim, assumir que 'todo mundo sabe o que fazer' é confortável para quem delega, mas caro para quem executa. Empresas maduras trocam presunção por clareza. Não porque as pessoas são incapazes, mas porque o trabalho moderno é complexo demais para depender do óbvio. Clareza não é controle. É respeito pelo tempo, pela energia e pela inteligência do time.