Para o vice-presidente da Abimóvel e sócio-diretor do Grupo OFFICINA, Adeilton Pereira, a produção tende a se tornar cada vez mais regionalizada O setor moveleiro do Nordeste vive um momento de consolidação e mudança estrutural. Dados do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI) mostram que a produção de móveis na região cresceu 15,7% entre 2019 e 2024, um ritmo que reflete não apenas o fortalecimento da indústria local, mas também a expansão do mercado consumidor nordestino. Com população numerosa e renda em evolução, a região voltou a ocupar a posição de segundo maior mercado consumidor do país. Para Adeilton Pereira, vice-presidente da Abimóvel e sócio-diretor do Grupo OFFICINA, esse movimento aponta para um futuro mais regionalizado da indústria brasileira: 'O Sul e o Sudeste seguem importantes para o setor, mas acredito que o futuro será mais descentralizado. O Nordeste tem potencial para alcançar autossuficiência e isso vale para diversas atividades econômicas' – afirma. Produzir perto de onde se consome Um dos principais diferenciais competitivos do Nordeste está na proximidade entre produção e consumo. Adeilton explica que a distância histórica dos grandes polos moveleiros do Sul acabou criando espaço para o desenvolvimento da indústria local. 'Produzir perto de onde consome é um diferencial competitivo importante. Seja pelo custo de transporte, pela agilidade de entrega ou mesmo por questões tributárias.' – destaca o vice-presidente da Abimóvel. Além disso, a localização geográfica favorece estratégias de longo prazo. Segundo o executivo, o Nordeste está mais próximo da Europa e dos Estados Unidos, o que amplia o potencial de exportação à medida que a indústria regional amadurece e ganha escala. Mão de obra como desafio e oportunidade Apesar do avanço, o setor ainda enfrenta gargalos relevantes. A escassez de mão de obra qualificada é um deles. Adeilton ressalta que se trata de um desafio nacional, mas com características próprias na região. 'No Sul, a massa de trabalhadores é menor, mas o nível de qualificação é maior. No Nordeste, ocorre o oposto', explica. Para ele, o caminho passa por investimento contínuo em formação profissional. Centros de capacitação, parcerias educacionais e programas de primeiro emprego podem transformar um problema estrutural em vantagem competitiva. “Hoje, essa escassez é um gargalo que limita o crescimento e pode frear um avanço mais acelerado.” – afirma Adeilton. Sustentabilidade como requisito de mercado Outro ponto central para o futuro do setor moveleiro nordestino é a sustentabilidade. O tema deixou de ser diferencial e passou a ser exigência em mercados cada vez mais rigorosos. Nesse aspecto, Adeilton vê uma vantagem natural da região: 'O Nordeste tem o privilégio de contar com uma matriz energética limpa, principalmente solar e eólica', acentua Pereira. A responsabilidade ambiental, segundo ele, deve estar presente em toda a cadeia. Desde a escolha de fornecedores até a eficiência do processo produtivo, com redução de perdas e destinação correta de resíduos. Práticas de economia circular também ganham espaço, permitindo que produtos tenham novas utilidades após o uso inicial. Caminho para a internacionalização Pensando no longo prazo, Adeilton acredita que a internacionalização é um passo natural para o setor. O primeiro movimento, segundo ele, é valorizar elementos naturais e culturais da região no design do mobiliário. 'O Nordeste já despertou para esse movimento', observa. A participação em ações internacionais promovidas por entidades como a Abimóvel e por órgãos governamentais, como a Apex, também é vista como estratégica. “Outro passo importante é o posicionamento estratégico de branding. Depois, a exportação costuma começar por países da América do Sul e Central. Em seguida, avança para mercados mais exigentes, como Estados Unidos e Europa. Para isso, é essencial controlar custos, cumprir requisitos ambientais e fortalecer o design autoral.” – ressalta o presidente do Grupo OFFICINA. O cenário desenhado por Adeilton Pereira indica que o setor moveleiro do Nordeste não apenas cresce, mas amadurece. Com mercado interno forte, potencial exportador e uma indústria cada vez mais alinhada às exigências globais, a região caminha para um papel mais autônomo e estratégico dentro da cadeia moveleira brasileira.