Engolir tudo pode até parecer profissionalismo no curto prazo. Mas, no longo, custa caro Em muitos ambientes de trabalho, 'saber se controlar' virou elogio máximo. Profissionais valorizados são aqueles que não demonstram incômodo, não reagem, não se abalam. Choram em casa, explodem sozinhos no carro, mas no escritório mantêm a mesma expressão neutra diante de qualquer pressão. À primeira vista, isso parece maturidade emocional. Na prática, muitas vezes é o oposto: é uma gestão de emoções mal entendida, que empurra tudo para baixo do tapete até começar a cobrar caro. Profissionais que reprimem emoções de forma constante tendem a apresentar mais sintomas de esgotamento, cinismo e distanciamento em relação ao trabalho. Não é sentir emoção que atrapalha a performance. O que paralisa é não saber o que fazer com o que se sente. Emoção não é inimiga da performance Gestão de emoções não é desligar o que incomoda. É reconhecer, interpretar e responder de forma adulta. Raiva, frustração, medo e vergonha são dados do sistema, não bugs. Eles indicam limites, necessidades ignoradas, riscos percebidos, incoerências no contexto. Quando o profissional tenta eliminar essas pistas, perde um pedaço importante da própria inteligência. O problema é que muitas culturas corporativas ainda confundem estabilidade com anestesia. O ideal silencioso é o colaborador que 'aguenta tudo', sorri para qualquer mudança, aceita qualquer prazo e nunca se irrita. Esse ideal é impossível. Quem tenta chegar perto dele paga com saúde emocional e, mais cedo ou mais tarde, com queda de qualidade na entrega. O mito do profissional blindado O 'profissional blindado' parece admirável: não se abala, não leva nada para o pessoal, não se ofende. Só que, com frequência, a blindagem esconde um desligamento interno. A pessoa para de se importar de verdade. Ela cumpre tarefa, mas não se envolve. E envolvimento é o que sustenta a energia para aprender, melhorar e enfrentar conversas difíceis. Quando sentir é proibido, a equipe perde um radar importante. Ninguém assume que algo está pesado demais, que um prazo é inviável, que uma decisão é incoerente. A empresa segue se apoiando em discursos de alta performance, enquanto o corpo emocional do time pede socorro em silêncio. Quando controlar vira desligar Há uma diferença grande entre regular reação e negar emoção. Regular é respirar fundo, escolher o melhor momento para falar, buscar linguagem adequada. Negar é fingir que nada aconteceu, mesmo quando você está irritado, exausto ou decepcionado. A negação prolongada leva a dois caminhos previsíveis: explosões fora de hora ou apatia. Explosões acontecem quando o acúmulo ultrapassa o limite de controle. Um comentário aparentemente pequeno vira gatilho para uma reação desproporcional. A apatia surge quando a pessoa desiste de sentir para não sofrer. Ela faz o que precisa, mas no automático, sem curiosidade, sem brilho, sem vontade de ir além. Práticas reais de gestão de emoções no dia a dia Gestão de emoções madura é feita em gestos pequenos. Começa por dar nome ao que se sente: 'estou frustrado', 'estou sobrecarregado', 'estou com medo de não dar conta'. Nomear não resolve tudo, mas tira a emoção do plano nebuloso. A partir daí, fica mais fácil decidir o que precisa mudar: um prazo, um processo, uma conversa pendente. Outra prática é criar espaços legítimos de conversa, não apenas de desabafo informal. Check-ins rápidos sobre clima, feedbacks que incluam a dimensão emocional do trabalho e abertura real para dizer 'assim não está funcionando' ajudam a evitar que o time exploda mais à frente. Também é essencial reconhecer limites. Gestão de emoções não é aprender a suportar tudo. É aprender a identificar quando a carga passou do ponto e precisa ser redistribuída, renegociada ou interrompida. Maturidade emocional como vantagem competitiva Organizações que entendem gestão de emoções como competência, e não como fragilidade, ganham times mais lúcidos e sustentáveis. Profissionais que podem sentir e falar com responsabilidade erram menos por exaustão, sinalizam riscos mais cedo e sustentam melhor a própria performance. Engolir tudo pode até parecer profissionalismo no curto prazo. Mas, no longo, custa caro: adoece pessoas, empobrece decisões e esvazia o sentido do trabalho. Gestão de emoções bem feita não elimina o desconforto. Ela dá direção para ele. E é exatamente essa direção que diferencia equipes que apenas sobrevivem de equipes que crescem de forma madura.