Pesquisa italiana mostra que desempenho em avaliações orais segue um padrão que favorece horários intermediários do dia Você preparou seu discurso, estudou a empresa e revisou a descrição da vaga. Mas já parou para pensar qual o melhor horário do dia para fazer uma entrevista de emprego? Segundo um novo estudo, isso pode fazer mais diferença do que você imagina. Pesquisadores da Universidade de Messina, na Itália, analisaram os resultados de mais de 100 mil exames orais aplicados em estudantes universitários e descobriram que o horário da entrevista tem um impacto significativo no desempenho. As conclusões ajudam a entender como o fator tempo pode influenciar decisões em contextos de alta pressão, como avaliações profissionais ou processos seletivos. O pico de sucesso acontece entre 11h e 13h O estudo, publicado recentemente, analisou provas realizadas entre outubro de 2018 e fevereiro de 2020. Os dados revelaram que o número de estudantes aprovados segue uma curva em forma de sino — com desempenho mais fraco nas primeiras horas da manhã e no final da tarde. O melhor desempenho? Entre 11h e 13h. A inspiração para a pesquisa veio de um estudo anterior, que mostrava que juízes tendem a ser mais lenientes no início do expediente ou após intervalos para refeições. O neurocientista Carmelo Vicario, autor principal do novo estudo, quis verificar se o mesmo padrão se repetia no contexto educacional — e os dados mostraram que sim. Cronotipos e o conflito de ritmos biológicos Uma possível explicação para o fenômeno envolve os chamados 'cronotipos' — ritmos biológicos que definem os horários de maior alerta e produtividade das pessoas. Jovens, por exemplo, costumam ter picos de desempenho mais tarde, enquanto pessoas mais velhas tendem a render melhor pela manhã. Entrevistas no meio do dia podem, portanto, representar um ponto de equilíbrio entre o desempenho dos candidatos mais jovens e a atenção dos avaliadores mais experientes. Essa diferença de ritmos pode inclusive alimentar vieses geracionais, como mostrou uma pesquisa da ResumeBuilder: 36% dos recrutadores admitem ter algum tipo de preconceito contra a geração Z. O impacto da hora na tomada de decisão Vicario destaca que a influência do horário tende a ser mais forte em situações com pressão de tempo — como entrevistas, exames e reuniões decisivas. Nesses momentos, a disposição mental e o cansaço acumulado podem pesar mais do que se imagina. Ainda que os dados não permitam afirmar com certeza a causa do padrão observado, os autores acreditam que a sincronização dos ritmos de energia entre entrevistador e entrevistado pode reduzir vieses inconscientes e tornar os processos mais justos. Como mitigar o problema Especialistas sugerem estratégias para contornar esse efeito: Flexibilizar os horários de entrevistas e reuniões, permitindo que cada um escolha seu melhor horário; Evitar decisões importantes no fim do dia, quando o cansaço já é maior; Agendar entrevistas e apresentações para os horários em que ambos os lados têm maior nível de energia. Como escreveu a pesquisadora Camilla Kring em artigo para a Fast Company, 'ao reconhecer as diferenças biológicas sobre como e quando as pessoas rendem melhor, líderes podem reduzir vieses ocultos e liberar talentos que antes estavam invisíveis.' O que vem pela frente Para Vicario, o estudo é apenas o começo. Ele espera que pesquisas futuras possam identificar com precisão os fatores que tornam certos horários mais favoráveis a decisões importantes — e que esse conhecimento ajude empresas e profissionais a fazer escolhas mais justas e eficazes. A mensagem é clara: na próxima entrevista, talvez tão importante quanto estar preparado é estar atento ao relógio. Seu desempenho — e sua contratação — podem depender disso.