Profissionais que crescem aprendem a construir sistemas para que menos coisas precisem ser resolvidas na raça Toda organização tem um personagem recorrente: a pessoa que resolve. Quando algo dá errado, chamam você. Quando uma entrega trava, pedem sua intervenção. Quando ninguém quer assumir, empurram para você. No começo, isso parece prestígio. Você vira indispensável, ganha confiança, recebe elogios. Só que existe um custo oculto: ser o 'resolvedor oficial' pode te prender no curto prazo e te afastar do tipo de trabalho que realmente faz uma carreira crescer. Profissionais altamente confiáveis são frequentemente sobrecarregados com urgências e problemas críticos, o que reduz tempo para pensamento estratégico, desenvolvimento e construção de processos. A dependência do 'resolvedor' é eficiente para o sistema, mas pode ser destrutiva para a pessoa e para a maturidade do time. Você vira solução do sistema e o sistema deixa de melhorar Quando você resolve sempre, você vira compensação estrutural. A empresa aprende que não precisa consertar a causa, porque existe um atalho: você. Processos continuam confusos, decisões seguem sem dono, falhas se repetem. E a organização mantém a ilusão de funcionamento porque alguém está segurando. Isso cria um paradoxo cruel: quanto melhor você resolve, menos a empresa aprende. E quanto menos ela aprende, mais ela depende de você. Dependência é o oposto de escala. Seu trabalho fica cheio, mas seu escopo não cresce O 'resolvedor' costuma ter agenda lotada e pouca influência real. Você apaga incêndios, mas não define prioridades. Executa soluções, mas não decide estratégia. A empresa te vê como um grande executor, não como alguém que deveria estar construindo o sistema. Pergunte a si mesmo: quantas horas da sua semana são gastas em urgências que poderiam ser evitadas com processo melhor? Se a resposta for 'muitas', você está crescendo em volume de trabalho, não em escopo de atuação. O preço emocional de estar sempre disponível Ser resolvedor exige prontidão. E prontidão constante é estado de alerta. Você vive esperando o próximo problema, o próximo pedido, a próxima interrupção. Isso drena energia, reduz foco e enfraquece sua inteligência emocional. Com o tempo, você fica mais reativo, menos paciente e mais cansado do que admite. Além disso, vira difícil dizer não. Você teme que o sistema colapse sem você, e isso alimenta um senso de responsabilidade que parece nobre, mas pode ser autoconsumo. Como sair do papel sem perder relevância O primeiro passo é transformar resolução em padrão. Sempre que você resolver algo recorrente, registre o que fez e crie um checklist, um processo ou uma regra simples. Seu objetivo é reduzir a chance de ser acionado de novo pelo mesmo motivo. O segundo passo é delegar decisões, não só tarefas. Em vez de resolver, peça que alguém traga opções e recomendação. Isso desenvolve autonomia no time e reduz dependência. O terceiro passo é negociar seu foco com clareza. 'Posso ajudar nisso, mas então vou pausar X, que é uma entrega estratégica. Qual prioridade vale mais agora?' Essa frase expõe o custo do improviso e força a liderança a escolher, em vez de empurrar. No fim, ser resolvedor é um talento. Mas virar resolvedor oficial é uma prisão. Profissionais que crescem aprendem a construir sistemas para que menos coisas precisem ser resolvidas na raça. E quando você consegue sair do centro do incêndio e passar a reduzir a chance de incêndio, você não perde relevância. Você muda de patamar.