Motivação, confiança e energia são recursos renováveis, desde que os líderes invistam ativamente em cultivá-los Nos últimos anos, o termo quiet quitting (ou 'demissão silenciosa') ganhou fama mundial, retratado como uma crise de engajamento: funcionários desmotivados, fazendo apenas o mínimo necessário e 'desligando-se' emocionalmente do trabalho. Mas um novo estudo global da Culture Amp, que analisou 3,3 milhões de colaboradores em todo o mundo, desmonta esse mito. Segundo os dados, menos de 2% dos trabalhadores se encaixam na definição de quiet quitting — ou seja, pessoas que perderam o ímpeto de ir além, mas que pretendem continuar em seus cargos. A realidade é mais complexa do que uma revolta geracional. O desafio dos líderes não é combater uma epidemia de desinteresse, mas criar as condições para que as pessoas se sintam motivadas e com propósito. Eis o que o estudo mostra que realmente funciona: 1. Escute como um cientista, não como um detetive Muitos líderes encaram o desengajamento como algo a ser 'corrigido'. Mas abordagens baseadas em suspeita só ampliam a distância entre gestor e equipe. Amy Lavoie, VP de People Science da Culture Amp, recomenda trocar o tom investigativo pela curiosidade genuína: 'Pergunte o que realmente está acontecendo com a pessoa. Uma conversa empática costuma gerar mais engajamento do que qualquer medida corretiva.' Em vez de tentar 'descobrir o problema', formule perguntas abertas — 'Você sente que está prosperando? Por quê?' — e ouça sem julgamentos. Esse espaço de segurança psicológica é o que sustenta a alta performance ao longo do tempo. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção 2. Valorize os 52% que já estão engajados Enquanto o quiet quitting ocupa as manchetes, o estudo revela um dado muito mais relevante: 52% dos funcionários estão motivados e comprometidos. São essas pessoas que carregam as empresas adiante — e, paradoxalmente, recebem pouca atenção. O reconhecimento e as oportunidades de crescimento são os principais fatores que mantêm a motivação viva.Os líderes podem reforçar isso fora dos ciclos formais de avaliação, com mensagens simples e poderosas: 'Veja o impacto que você gerou — e aqui está o próximo passo que podemos trilhar juntos.' 3. Redefina retenção: não tema a rotatividade, projete fluidez O estudo também aponta um fenômeno crescente: o job hugging — quando funcionários permanecem no cargo por medo de mudar ou pela insegurança do mercado.Embora pareça positivo, esse tipo de retenção por medo sufoca a inovação e a energia interna.Programas de mobilidade interna, mentoria e planejamento de carreira ajudam as pessoas a se moverem dentro da empresa, em vez de estagnarem. Como explica Justin Angsuwat, Chief People Officer da Culture Amp: 'O medo drena. O propósito alimenta. O importante é garantir que as pessoas permaneçam pelos motivos certos.' 4. Projete para a energia, não para a resistência A 'paradoxo da produtividade' é real: empresas exigem mais resultados com menos recursos.Mas equipes de alto desempenho — como times cirúrgicos ou de resgate — sabem que rendimento sustentável exige equilíbrio entre foco e recuperação.Líderes podem aplicar o mesmo princípio ao distribuir melhor as cargas de trabalho, incentivar pausas e recompensar comportamentos que sustentem a energia no longo prazo.Performance não vem do cansaço, vem da vitalidade. 5. Teste suas suposições: use dados para guiar decisões Entre 2021 e 2024, a motivação global caiu quatro pontos percentuais — o que representa dezenas de milhares de trabalhadores a menos engajados.Mas os dados desmentem vários mitos: por exemplo, colaboradores remotos não são mais propensos a 'quiet quitting' do que os presenciais.Como destaca a pesquisadora Heather Walker: 'Líderes e colaboradores não estão em lados opostos. Estão do mesmo lado da mesa, tentando criar condições para que o trabalho dê certo.' O que realmente está em jogo Quiet quitting talvez nunca tenha sido uma crise — mas a qualidade dos relacionamentos dentro das empresas, sim. Motivação, confiança e energia são recursos renováveis, desde que os líderes invistam ativamente em cultivá-los. No fim, o desafio não é 'fazer as pessoas trabalharem mais', mas dar motivos reais para que elas queiram contribuir.