Pesquisa internacional revela: carisma impressiona, mas a confiança nasce da vulnerabilidade Por muito tempo, a imagem do profissional bem-sucedido foi associada à figura do “cool” — alguém confiante, inabalável, independente. No entanto, uma nova pesquisa global publicada no Journal of Experimental Psychology sugere que essa imagem pode estar custando caro à construção de equipes verdadeiramente eficazes e confiáveis. O estudo, que analisou a percepção de quase 6.000 pessoas em 13 países, revelou que indivíduos considerados 'cool' compartilham traços como extroversão, hedonismo, poder e autonomia. No entanto, ao pedir que os participantes apontassem pessoas 'boas', os atributos mudaram drasticamente: surgiram gentileza, empatia, calma e consciência social. A mensagem é clara: ser admirado é diferente de ser confiável — e, no ambiente de trabalho, confiança vale mais do que carisma. O custo da autossuficiência emocional A cultura do 'cool' valoriza a autossuficiência. No escritório, isso pode se traduzir em evitar mostrar dúvidas, hesitar em pedir ajuda e manter uma imagem sempre polida, mesmo quando algo está fora do lugar. Mas essa frieza emocional, embora estilizada, compromete a criação de relações autênticas e o desenvolvimento de um ambiente colaborativo. A autora e pesquisadora que conduziu um estudo nacional sobre comportamento no trabalho nos Estados Unidos identificou um fenômeno crescente: a 'atrofia social'. Ela descreve como profissionais vêm perdendo a habilidade de interações humanas significativas — desde pedir ajuda a iniciar conversas difíceis. Em sua pesquisa, 30% dos entrevistados afirmaram preferir limpar um banheiro a pedir ajuda a um colega. O motivo? Vergonha, receio e… constrangimento. O poder do constrangimento produtivo O que a pesquisa defende é que o desconforto — o famoso 'climão' — pode ser não um obstáculo, mas uma ferramenta de crescimento e conexão. Em seu livro The Good Awkward, a autora propõe que as situações desconfortáveis são o verdadeiro terreno fértil da colaboração, confiança e inovação. Isso inclui falar sem ter todas as respostas, fazer perguntas consideradas 'bobas' e se manter presente durante conversas difíceis. Ou seja: assumir a vulnerabilidade como parte natural da liderança moderna. A herança cultural da frieza A ideia de que bons líderes são serenos, contidos e imperturbáveis tem raízes profundas — desde os tempos de James Dean e da geração “rebelde sem causa”. Ainda hoje, profissionais que demonstram emoção são muitas vezes vistos como frágeis ou despreparados. Mas essa expectativa de distanciamento emocional pode estar desatualizada. Em um mundo onde o trabalho remoto aumentou a distância entre as pessoas e a rotatividade de talentos atingiu novos recordes, o que as equipes mais precisam não é de pose, e sim de presença emocional genuína. Construa pontes, não apenas status A conclusão dos pesquisadores é simples, mas poderosa: se você quer ser um líder de verdade, talvez seja hora de abandonar a busca por parecer sempre no controle e começar a cultivar a coragem de se mostrar humano. Porque, no fim das contas, enquanto o 'cool' atrai olhares, é o desconforto bem-vindo que constrói pontes — e transforma colegas em parceiros de verdade.