Se você foi promovido e se sente pior, talvez não seja queda de capacidade. Talvez seja falta de desenho Promoção costuma ser tratada como vitória automática. Mais responsabilidade, mais autonomia, mais reconhecimento. Só que há um fenômeno comum e pouco falado: profissionais excelentes pioram depois de subir de cargo. Não por falta de competência, mas porque a função mudou e ninguém redesenhou o jogo. O que antes era execução e entrega individual vira influência, decisão, gestão de energia do time e negociação de prioridades. Muitas promoções fracassam por um motivo simples: a empresa muda o título, mas não muda as expectativas, os critérios e o suporte. O profissional segue tentando 'performar' com as mesmas ferramentas do cargo anterior e, nesse esforço, fica sobrecarregado, perde foco e começa a parecer menos eficiente. Quando o que te fez subir vira o que te trava O erro clássico é continuar operando como o melhor executor. Você entra no detalhe, resolve tudo, revisa tudo, responde tudo. Parece responsabilidade, mas vira gargalo. Seu dia se enche de urgências e você perde o que realmente precisa fazer agora: orientar, priorizar, decidir, desenvolver pessoas e construir sistema. Outra armadilha é a ansiedade de provar que merece o cargo. Ela empurra para o excesso: mais horas, mais disponibilidade, mais controle. Só que liderança não é demonstrar esforço. É aumentar capacidade do time. E capacidade cresce com clareza, critérios e acordos, não com heroísmo. A transição muda o tipo de trabalho invisível No novo cargo, surge um trabalho que não aparece na lista de tarefas: alinhar expectativas, lidar com conflitos, tomar decisões com informação incompleta e sustentar conversas difíceis. Isso exige Gestão de Emoções. Se você não regula ansiedade, impaciência e medo de errar, seu tom muda, sua disponibilidade vira compulsão e sua agenda vira sobrevivência. Você já se pegou pensando que está sempre devendo? Que, mesmo trabalhando mais, parece avançar menos? Isso é um sinal de que seu trabalho virou mais complexo e menos mensurável. E sem critérios claros, a mente interpreta complexidade como falha pessoal. O que fazer nos primeiros 60 dias para não afundar Primeiro, redefina seu papel em uma frase: o que eu faço que ninguém mais pode fazer? Essa pergunta corta tarefas que você assumia por hábito e devolve espaço para decisões que dependem de você. Segundo, troque execução por padrões. Em vez de resolver tudo, crie checklists, exemplos e 'definições de pronto'. Isso reduz dependência e melhora qualidade sem você virar fiscal. Terceiro, estabeleça rituais curtos com o time: alinhamento semanal de prioridades, riscos e próximos passos. Sem isso, a operação te puxa para o improviso e você vira refém de mensagens e urgências. A promoção saudável é a que melhora o sistema, não a que te consome Também vale negociar expectativas com a liderança. Quais são as três entregas que definem sucesso neste cargo? O que é prioridade real? O que pode ficar para depois? Quando isso não fica explícito, você tenta agradar todos e falha com o que importa. No fim, promoção não é só subir. É transitar. E transição é um processo, não um evento. Se você foi promovido e se sente pior, talvez não seja queda de capacidade. Talvez seja falta de desenho. Ajuste o papel, crie padrões, proteja sua energia e construa autonomia ao redor. É assim que você deixa de ser o melhor executor e vira, de fato, alguém que multiplica resultado.