A empresa que valoriza a amizade, a escuta e o tempo de qualidade entre colegas está investindo não apenas em bem-estar, mas também em resultados sustentáveis Imagine se sua empresa oferecesse a chance de trabalhar lado a lado com sua melhor amiga. Poucos aceitariam trocar isso por um salário menor. Mas e se a proposta fosse ter uma 'melhor amiga de IA'? A ideia soa futurista, mas já atrai quase todos os trabalhadores ouvidos em uma pesquisa da KPMG: 99% dos profissionais afirmaram que gostariam de ter um chatbot como companheiro de confiança no ambiente de trabalho. Segundo o levantamento, que ouviu mais de mil funcionários em tempo integral, 98% também gostariam que sistemas de IA sugerissem colegas com base em interesses compartilhados — o que implica confiar a essas ferramentas informações pessoais para ajudar a formar conexões. O paradoxo da IA e da solidão Os números revelam o quanto a sociedade está familiarizada com a interação com inteligências artificiais. Porém, como destacou Sandy Torchia, vice-chair de talento e cultura da KPMG nos EUA, vivemos um paradoxo: a IA pode aliviar a solidão, mas ao mesmo tempo reforça a necessidade de conexões humanas autênticas. Isso aparece claramente em outros achados do estudo. Quase 9 em cada 10 trabalhadores (86%) disseram que a exposição à IA aumentou seu desejo de criar vínculos humanos. Entre profissionais remotos, esse número sobe para 94%. Ainda assim, quase metade dos entrevistados (49%) acredita que a tecnologia favorece conexões superficiais, em vez de conversas significativas. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O declínio das amizades no trabalho A solidão corporativa é um fenômeno crescente. Uma pesquisa da Gallup revelou que apenas 20% dos trabalhadores norte-americanos têm um 'melhor amigo' no trabalho. Já outro levantamento, do Glassdoor, mostrou que 53% dos entrevistados evitam criar amizades próximas com colegas porque preferem separar vida pessoal e profissional. Essa tendência contrasta com evidências que associam amizades verdadeiras no trabalho a maior satisfação, engajamento e produtividade. No entanto, muitos funcionários relatam dificuldade em cultivar esses laços em tempos de trabalho remoto e híbrido. Amigo ou simulacro? Embora alguns vejam a IA como uma 'máquina da solidão', outros a consideram uma alternativa viável. Nos debates online, opiniões se dividem. Há quem critique a ideia, lembrando que, por mais convincente que seja, a IA não pode retribuir sentimentos. Por outro lado, usuários defendem que conversar com um chatbot é útil justamente porque não exige nada em troca e permite compartilhar interesses de nicho sem receio de incomodar. Na prática, esse contraste revela uma tensão cultural: a busca por ferramentas que ofereçam companhia, mesmo que artificial, e o receio de substituir relações humanas por interações programadas. O que as empresas podem fazer Diante desse cenário, a recomendação para líderes é clara: antes de apostar em soluções tecnológicas, é preciso entender o nível de solidão presente nas equipes. Pesquisas internas podem revelar se os funcionários se sentem isolados. Se houver carência de conexões, a IA pode ser usada como apoio, mas nunca como substituto da construção de uma cultura de engajamento humano. Afinal, nenhuma tecnologia elimina a necessidade de contato genuíno. A empresa que valoriza a amizade, a escuta e o tempo de qualidade entre colegas está investindo não apenas em bem-estar, mas também em resultados sustentáveis.