Novos pacotes tarifários anunciados pelo presidente Donald Trump devem afetar diretamente o comportamento de consumo dos americanos Com o temor de uma possível recessão nos Estados Unidos, os gastos mensais com serviços não essenciais, como os de streaming, podem sofrer cortes. A avaliação é de analistas do setor, que apontam que os novos pacotes tarifários anunciados pelo presidente Donald Trump devem afetar diretamente o comportamento de consumo dos americanos. Na semana passada, Trump decretou uma tarifa generalizada de 10% sobre bens importados da maioria dos parceiros comerciais dos EUA, além de sobretaxas específicas para regiões como Europa e Ásia. Embora os serviços de streaming não sejam diretamente taxados — por se tratarem de serviços e não bens físicos — os impactos econômicos indiretos da medida, como a volatilidade nos mercados e o aumento do custo de vida, já começam a afetar decisões de consumo. Prioridade para serviços principais, cortes nos nichos Segundo Paul Erickson, analista da Omdia, os consumidores tendem a revisar seus gastos com entretenimento em tempos de incerteza econômica. 'É comum vermos os assinantes mantendo plataformas principais, como a Netflix, e cortando serviços mais nichados, como o Apple TV+', afirma. O índice S&P 500 caiu cerca de 11% após o anúncio tarifário, refletindo a preocupação dos investidores. Apesar de uma leve recuperação, o clima de incerteza permanece, o que pode afetar diretamente as empresas de tecnologia e mídia. Modelos com anúncios enfrentam novos desafios Nos últimos anos, para manter a base conquistada durante a pandemia, as plataformas de streaming passaram a oferecer planos com anúncios, mais acessíveis ao público. Hoje, mais da metade dos novos assinantes do Disney+ optam por esse modelo. No entanto, essa estratégia pode ser colocada em xeque com a queda no investimento publicitário por parte de setores impactados pelas tarifas, como a indústria automobilística. Matthew Bailey, especialista em publicidade da Omdia, alerta: 'Com o aumento das tarifas sobre indústrias que são grandes anunciantes, os serviços que dependem de publicidade para manter preços baixos podem ser pressionados a reajustar seus valores'. Impactos sobre a produção de conteúdo original As tarifas também atingem empresas que operam tanto no setor de tecnologia quanto no de streaming. A Apple, por exemplo, viu suas ações caírem 9% após o anúncio de Trump, acumulando perdas superiores a US$ 600 bilhões em valor de mercado. Embora séries consagradas como Severance estejam a salvo, projetos menores podem ser sacrificados. Erickson explica que, diante da instabilidade econômica, os estúdios tendem a ser mais conservadores na aprovação de novos conteúdos. 'O streaming continua sendo uma opção de entretenimento acessível, mas isso não garante imunidade em um cenário de crise prolongada.' Reação internacional pode ampliar efeitos Além dos impactos internos, há o risco de retaliações por parte de outros países. A China já estuda a possibilidade de impor tarifas sobre serviços norte-americanos ou restringir a entrada de produções dos EUA. A medida ainda está em discussão, mas reflete o crescente clima de tensão nas relações comerciais globais. Embora o streaming permaneça como uma alternativa econômica ao entretenimento tradicional, os desafios impostos pelas novas tarifas e pela instabilidade econômica devem forçar empresas e consumidores a tomarem decisões mais estratégicas — tanto no que assistem quanto no que produzem.