Ao repensar modelos de trabalho, horários, benefícios e infraestrutura, o empreendedor pode fazer mais do que aliviar o humor da equipe Para muita gente, já virou rotina: sair mais cedo, cair num mar de carros, perder tempo e paciência no trajeto até o trabalho. Mas essa sensação não é só impressão. Em 2024, o motorista médio nos Estados Unidos desperdiçou 63 horas por ano preso em congestionamentos, considerando atrasos, combustível gasto em anda e para e todo o 'pacote' do estresse diário. Segundo um relatório recente do Texas A&M Transportation Institute, esse número vem crescendo de forma consistente desde os anos 1980 e já superou o pico pré-pandemia. Ou seja: mesmo após a explosão do trabalho remoto e híbrido, o trânsito voltou mais forte – e mais imprevisível – do que nunca. Para empreendedores e gestores, isso não é apenas um incômodo logístico, é um problema de produtividade, saúde mental e competitividade. Trânsito ruim o dia todo, não só no 'rush' O estudo mostra um ponto especialmente crítico: o congestionamento deixou de ser restrito aos horários de pico. Em muitas cidades, o trânsito pesado se estende ao meio do dia e aos fins de semana, tornando quase impossível 'acertar' um horário realmente tranquilo para se deslocar. Entre as causas, aparecem o aumento de veículos de entrega impulsionados pelo e-commerce, o maior fluxo de carros individuais e o crescimento das viagens de fim de ano. O resultado é prático: funcionários precisam planejar margens de segurança maiores, chegam mais cansados e perdem horas produtivas apenas para se locomover. Do deslocamento ao desempenho: o custo invisível Na perspectiva de negócios, essas 63 horas anuais não são apenas um número. Representam tempo em que colaboradores poderiam estar produzindo melhor, descansando, estudando ou convivendo com a família. Também pesam na percepção de qualidade de vida e na atratividade da empresa como lugar para trabalhar. Organizações que ignoram esse contexto tendem a sofrer com atrasos recorrentes, reuniões esvaziadas, aumento de estresse e, em última instância, dificuldade maior para reter talentos. Já as empresas que tratam o deslocamento como parte da experiência do colaborador ganham uma vantagem competitiva silenciosa, mas poderosa. Flexibilidade de jornada como estratégia de negócios Uma primeira resposta está na flexibilização da semana de trabalho. Modelos híbridos, dias remotos e até uma jornada de quatro dias podem reduzir o impacto do trânsito, diminuir o desgaste diário e, ao mesmo tempo, manter – ou até elevar – a produtividade. Mesmo quando a presença física é indispensável, é possível ajustar a rotina. Agendar reuniões presenciais para o meio da manhã ou início da tarde, e não às 8h ou 18h, permite que as pessoas fujam dos horários mais caóticos. Isso alivia a vida de pais e mães que lidam com escola e creche, reduz atrasos e melhora a qualidade da participação nas reuniões, com equipes mais alertas e menos esgotadas. Estacionamento, transporte público e mobilidade ativa Outro ponto subestimado é o estacionamento. Quando o funcionário precisa 'se virar' para achar vaga na rua, ele aumenta o tempo de carro circulando no entorno da empresa – o que agrava o trânsito local e eleva o risco de atrasos. Reservar vagas em um estacionamento próximo ou fechar convênios simples pode reduzir esse vaivém e melhorar a experiência de chegada. Incentivar o uso de transporte público também tem grande impacto na mobilidade urbana. Empresas podem oferecer subsídio ou passes de transporte, além de negociar com sistemas locais programas específicos para funcionários. Para quem adota ônibus, metrô ou trem, o tempo de deslocamento deixa de ser 100% perdido: vira oportunidade de ler, descansar ou até resolver tarefas leves. Por fim, vale olhar para soluções que estimulam caminhada, corrida ou bicicleta. Nem todos terão essa possibilidade, mas parte da equipe provavelmente gostaria de transformar o trajeto em exercício. Para isso, a empresa precisa oferecer estrutura mínima: bicicletário seguro, lockers, vestiário e, se possível, chuveiros. O que parece detalhe de infraestrutura se converte em mais saúde, engajamento e bem-estar. De problema urbano a vantagem competitiva Nem tudo está nas mãos das empresas – muitas medidas dependem de políticas públicas e gestão de trânsito. Mas uma parte importante da solução passa pelas decisões de líderes que entendem que mobilidade também é tema de gestão de pessoas. Ao repensar modelos de trabalho, horários, benefícios e infraestrutura, o empreendedor pode fazer mais do que aliviar o humor da equipe: pode, na prática, devolver dezenas de horas por ano para cada colaborador. Em um cenário em que o trânsito tende a piorar, quem se antecipa transforma um problema urbano em vantagem competitiva – e mostra, com atitudes concretas, que valoriza o tempo de quem faz o negócio acontecer.