Em um mercado em que a IA facilita a performance superficial, ver o candidato em ação pode ser o filtro mais confiável para contratar bem A inteligência artificial entrou de vez no jogo do recrutamento. Para empresas grandes, isso significa ajustar processos. Para pequenos negócios, pode significar sobrevivência. Em seleções recentes, muitos gestores começaram a notar um padrão: candidatos usando ferramentas como o ChatGPT para inflar currículos, responder perguntas de forma impecável e apresentar habilidades que não têm na prática. A entrevista, que já era limitada, ficou ainda menos confiável. Segundo Krista Mollion, consultora que trabalha com founders e dona de uma agência de marketing, o problema não é exatamente novo. Pessoas sempre exageraram competências para conseguir uma vaga. O que mudou é a escala e a sofisticação: a distância entre a apresentação e a realidade aumentou. Para ela, entrevistas tradicionais não revelam habilidade real, estilo de trabalho, capacidade de resposta ou julgamento. É possível soar perfeito por 40 minutos e se mostrar frágil no dia a dia. Ver alguém em ação muda o jogo Foi por isso que Mollion decidiu trocar parte do processo por algo simples, direto e difícil de falsificar: testes práticos pagos. Em vez de depender do discurso, ela passou a criar pequenas tarefas que espelham o trabalho real da vaga. Para ser justa, oferece pagamento pelo tempo e esforço do candidato. O objetivo é observar como a pessoa pensa, comunica e executa antes de assinar um contrato. Na prática, a metodologia revelou rapidamente diferenças que entrevistas raramente mostram. Alguns candidatos recusam qualquer teste, mesmo pago. Outros somem ou respondem tarde, deixando clara uma questão de confiabilidade. Há também quem entregue algo incompleto ou siga as instruções apenas depois de múltiplos lembretes. Para pequenas empresas, onde um erro de contratação tem impacto proporcionalmente maior, esses sinais valem ouro. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O que um teste revela além do currículo Mollion diz que um bom teste não precisa ser grande nem complexo. Precisa ser justo e relacionado ao cotidiano da função. Com ele, o gestor consegue avaliar quatro frentes fundamentais. A primeira é comunicação: a pessoa faz perguntas relevantes? esclarece dúvidas? responde com consistência? A segunda é velocidade: como lida com prazo, ritmo e prioridade? A terceira é qualidade: quando todos executam a mesma tarefa, quem entrega melhor se destaca. A quarta é atitude: entusiasmo, postura e colaboração aparecem com nitidez quando há trabalho real em jogo. Com o tempo, ela encontrou padrões extremos. Houve candidatos que a bloquearam assim que receberam a tarefa, sugerindo que perceberam que seriam expostos. Outros enviaram respostas geradas claramente por IA, com estrutura genérica e lógica desconectada. Para Mollion, esse tipo de atalho é quase sempre visível. E serve como termômetro de maturidade profissional. A régua A/B/C/D para separar quem entrega de quem promete Para organizar esse aprendizado, Mollion criou um sistema simples de classificação que aplica aos candidatos: A, B, C ou D. Os A-players são raros. Eles entregam acima do esperado, seguem instruções, antecipam necessidades e demonstram senso de dono. Os B-players são consistentes e profissionais, cumprem o combinado com qualidade, mas não expandem o escopo. Os C-players são a maioria: fazem o mínimo para concluir a tarefa, sem profundidade. Os D-players, por fim, são alerta vermelho: atrasos, falhas de comunicação, instruções ignoradas e entregas parciais. Para reduzir ainda mais o risco, ela combina testes com checagem de referências. Na visão de Mollion, isso não é burocracia corporativa. É base de segurança para equipes pequenas operarem com calma, eficiência e menos drama. Em um mercado em que a IA facilita a performance superficial, ver o candidato em ação pode ser o filtro mais confiável para contratar bem.