Expansão ganha força na região Norte, onde desafios logísticos tornam a precisão ainda mais valiosa O céu das lavouras brasileiras está mais movimentado. Em poucos anos, drones deixaram de ser curiosidade tecnológica para virar ferramenta cotidiana no agronegócio. A expansão é puxada por produtores que buscam eficiência, sustentabilidade e retorno rápido, num cenário em que cada hectare precisa produzir mais, com menos custo e menor impacto ambiental. Os números mostram a virada. Segundo levantamento da AgroPages, o total de drones agrícolas registrados no Brasil saltou de 355 em 2021 para mais de 7.800 em 2024. A tendência é de continuidade: a Gohobby, maior distribuidora de drones da América Latina, projeta crescimento de cerca de 30% ao ano para o segmento. A demanda vem de pecuaristas, produtores de grãos e cafeicultores, interessados principalmente na redução de custos de monitoramento e pulverização. Um mercado que cresce com ganhos práticos A popularização dos drones não se explica apenas por moda tecnológica. Eles têm mudado a lógica do manejo ao permitir monitoramento por imagem, identificação precisa de falhas e aplicação localizada de defensivos e fertilizantes. Em algumas propriedades, a precisão do equipamento já reduziu em até 65% o volume de químicos usados, concentrando a intervenção somente onde há necessidade real. Além do efeito ambiental, isso diminui gastos operacionais e contribui para aumento direto da produtividade. Gabriel Santos, gerente de negócios e produtos agro da Gohobby, relata que entre o fim de maio e a primeira quinzena de setembro foram comercializados cerca de 180 drones para o setor. No período anterior, de janeiro a maio, foram aproximadamente 300 unidades, antes da regionalização da DJI Agriculture no Brasil. A expectativa é encerrar 2025 com 700 drones agrícolas vendidos, ritmo que reforça a consolidação do mercado. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Investimento, serviço e retorno em menos de uma safra A Gohobby investiu R$ 20 milhões em Porto Velho, em Rondônia, para implantar escritório, centro de distribuição e centro de treinamento, alinhando-se ao novo posicionamento regional da DJI Agriculture. O movimento busca atender uma demanda que cresce com rapidez e exige infraestrutura de suporte técnico e capacitação, especialmente em áreas agrícolas afastadas dos grandes centros. O custo de operação também favorece a adoção. Hoje, prestadores de serviço cobram pulverizações com drones que variam de R$ 90 a R$ 300 por hectare, dependendo da cultura, da área e da região. Para quem compra o equipamento, o retorno sobre investimento pode acontecer em menos de uma safra, sobretudo em propriedades médias e grandes. A equação fica ainda mais atrativa em culturas como soja, milho, pastagens, café e cana, citadas pela empresa como uso típico do equipamento. O agro amazônico como nova fronteira de alta tecnologia O avanço brasileiro ocorre num ritmo inferior ao de potências como China e Estados Unidos, mas com aceleração evidente. Enquanto a China já opera centenas de milhares de drones, inclusive com funções automatizadas de semeadura e irrigação, o Brasil encurta distância ao incorporar a tecnologia em escala crescente. Essa expansão ganha força na região Norte, onde desafios logísticos tornam a precisão ainda mais valiosa. Após a divisão do Brasil em dez zonas de atuação pela parceira chinesa, a Gohobby passou a focar Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Com faturamento de quase R$ 150 milhões em 2024, a empresa vê a região superar expectativas. Em estados como Pará, Tocantins e Rondônia, a agricultura se diversifica entre grãos, pecuária, frutas tropicais, cacau, café e aquicultura, mas enfrenta obstáculos de distância e infraestrutura. Para Santos, os drones são estratégicos por permitir mapeamento rápido, aplicação localizada e pulverização precisa. Na prática, isso reduz o uso de defensivos, otimiza recursos e amplia produtividade, tornando a agricultura amazônica mais competitiva e melhor alinhada às exigências ambientais do mercado. O resultado é um campo mais tecnológico, eficiente e preparado para crescer sob novas regras econômicas e climáticas.