Relatórios apontam que jovens trabalhadores enfrentam níveis recordes de pressão e exigem mudanças estruturais para manter engajamento e reduzir a alta rotatividade A Geração Z — nascida entre 1997 e 2012 — chega ao mercado de trabalho com ambição, fluência digital e forte consciência sobre saúde mental. Mas, em vez de um início promissor, novos estudos revelam um quadro de estresse elevado e crescente descontentamento. Pesquisadores da Johns Hopkins University apontam que 68% dos profissionais da geração relatam estar sob pressão 'na maior parte do tempo'. Segundo os especialistas, fatores como instabilidade política, insegurança financeira, traumas da pandemia e ameaças de cortes têm moldado uma cultura de trabalho mais desgastante para os mais jovens. A 'tempestade perfeita' de fatores Brad Smith, chief science officer da plataforma de coaching digital meQuilibrium (meQ), destaca que os jovens enfrentam um 'triplo desafio de pessimismo, incerteza e desconexão'. Em entrevista à Inc., ele ressaltou que a entrada da Geração Z no mercado coincidiu com a maior crise sanitária global em décadas, deixando marcas duradouras na forma como encaram o trabalho. Esse cenário tem efeito direto na retenção. Dados da meQ indicam que 23% dos jovens trabalhadores pretendem trocar de emprego nos próximos seis meses, contra 13% dos profissionais mais velhos. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Níveis mais altos de estresse A tendência não se limita ao ambiente corporativo. A American Psychological Association (APA) mostrou em sua pesquisa Stress in America de 2023 que os jovens relatam, em média, um nível de estresse de 6 em 10, quase o dobro dos 3,4 registrados por pessoas acima dos 65 anos. No ambiente de trabalho, os gatilhos incluem cobrança por performance, medo de substituição por ferramentas de inteligência artificial e receio de demissões em massa. Além disso, os valores pessoais e a busca por propósito pesam mais do que em gerações anteriores, ampliando a pressão psicológica. O que as empresas estão fazendo Elika Dadsetan, CEO da ONG VISIONS, Inc., afirma que programas tradicionais de bem-estar não atendem às expectativas da Geração Z. Para ela, são necessárias 'estruturas contínuas de cuidado que construam confiança e engajamento'. Isso inclui salários compatíveis com o custo de vida, flexibilidade, dias de folga voltados à saúde mental e benefícios tangíveis. Algumas empresas já estão inovando. A seguradora MassMutual, por exemplo, criou uma 'carteira de bem-estar' que reembolsa até US$ 1.250 anuais em despesas de saúde física e mental, cobrindo desde tecnologia de autocuidado até adoção de pets e quitação de dívidas estudantis. Inclusão e conexão como antídotos Outro ponto destacado por especialistas é a importância da inclusão. A diversidade geracional e étnica da Geração Z exige que líderes desenvolvam competências em inteligência emocional e práticas de supervisão mais empáticas. 'É preciso garantir que ninguém carregue estresse em silêncio', diz Dadsetan. Além disso, criar espaços de diálogo e redes de apoio entre pares ajuda a combater a solidão, um dos principais fatores associados ao burnout. Apoio gerencial reduz risco de rotatividade Dados da meQ mostram que profissionais que recebem suporte consistente dos líderes têm 50% menos risco de deixar a empresa. Já aqueles que relatam altos níveis de esperança — combinação de autoconfiança e otimismo — são 74% menos propensos a sofrer burnout e quase 50% menos inclinados a pedir demissão. Para Smith, o caminho está em mudar a forma como se fala sobre desafios. 'Modelar mensagens realistas ajuda a normalizar os altos e baixos do trabalho e a reduzir a ansiedade', explica. Uma nova abordagem para reter talentos Especialistas concordam que o desafio não é apenas oferecer benefícios, mas criar uma cultura que legitime pausas, incentive conexões e valorize o bem-estar. 'Resiliência não acontece da noite para o dia, mas pode ser cultivada de forma proativa', conclui Cindy Ryan, da MassMutual. Para empresas que desejam atrair e reter a nova geração de talentos, a mensagem é clara: não basta oferecer cargos e salários competitivos. É preciso construir ambientes de trabalho que reconheçam as demandas emocionais e culturais que moldam o perfil da Geração Z.