Estudo mostra que maioria dos profissionais admite fingir estar ocupada, em sintoma de culturas corporativas baseadas no controle e não na confiança Uma nova pesquisa realizada pelo serviço de currículos com inteligência artificial Resume Now revelou um dado alarmante: 58% dos trabalhadores afirmam fingir estar ocupados com frequência no trabalho. Outros 34% admitem fazer isso ocasionalmente. Isso significa que mais de 90% dos entrevistados assumem algum tipo de ghostworking — termo usado para descrever comportamentos que simulam produtividade sem realização real de tarefas. Entre as estratégias mais comuns para parecer ocupado estão caminhar pela empresa com um caderno na mão (23%), digitar palavras sem sentido no teclado (22%) e simular chamadas telefônicas (15%). Há ainda quem agende reuniões fictícias para evitar compromissos reais (12%). Problema não está no modelo de trabalho O estudo também mostrou que a prática do ghostworking independe do formato de trabalho. Entre os entrevistados, 47% disseram desperdiçar mais tempo em home office, enquanto 37% apontaram o ambiente presencial como o local onde mais procrastinam. O dado sugere que o problema não está no local, mas sim na cultura da empresa e no nível de motivação dos colaboradores. Para especialistas, o fenômeno reflete uma crise de engajamento. A cultura da vigilância e da exigência de face time — presença física para demonstrar comprometimento — ainda é forte em muitas empresas, especialmente nos Estados Unidos e Canadá. Contudo, a prática não resulta em mais entrega, mas sim em mais simulações de produtividade. Cultura de desconfiança mina o desempenho real De acordo com análise publicada pelo portal Salon, os dados evidenciam um descompasso entre os valores das lideranças e as expectativas dos profissionais. A insistência de empresas em manter os colaboradores sob controle rígido — inclusive com pressão pelo retorno aos escritórios — pode estar alimentando a desconexão, especialmente entre gerações mais jovens, como a Z, que já demonstram rejeição ao modelo tradicional de carreira. Esse cenário também afeta avaliações de desempenho. Em culturas organizacionais que valorizam aparência e presença acima da entrega, colaboradores tendem a se proteger adotando estratégias de sobrevivência corporativa. Para os líderes, o desafio é claro: estabelecer ambientes mais confiáveis, onde a produtividade esteja associada à autonomia e à clareza de propósito. O risco silencioso por trás da simulação Fingir estar trabalhando pode parecer uma questão menor, mas é sintoma de algo mais profundo. Em vez de corrigir apenas comportamentos, é necessário repensar a forma como as empresas engajam suas equipes. Sem essa mudança, cresce o risco de manter estruturas disfuncionais, onde o foco está em controlar aparências — e não em alcançar resultados reais.