Ao contrário de conselhos prontos ou tentativas de 'consertar' o outro, attunement significa estar inteiramente presente, com atenção, sem julgamentos e com o corpo calmo Em tempos de sobrecarga, incerteza e esgotamento emocional, muitos líderes ainda acreditam que sua maior contribuição está em resolver problemas. Mas, em contextos de alta pressão, oferecer soluções rápidas ou minimizar sentimentos pode, sem querer, ampliar a distância com suas equipes. É nesse cenário que emerge um novo conceito de liderança: a atuação por meio da escuta ativa e presença emocional — ou, em termos técnicos, attunement. Ao contrário de conselhos prontos ou tentativas de 'consertar' o outro, attunement significa estar inteiramente presente, com atenção, sem julgamentos e com o corpo calmo. Um tipo de presença que sinaliza ao colaborador: eu vejo você, compreendo você, e aqui você está seguro. Liderar em um mundo emocionalmente exausto Segundo dados da Gallup de fevereiro de 2025, 52% dos trabalhadores norte-americanos relatam altos níveis de estresse. Outros 44% relatam preocupação, 24% tristeza e 22% raiva. Emoções assim não apenas afetam a saúde mental, como comprometem foco, engajamento e produtividade. Nesse contexto, como o líder responde ao sofrimento emocional da equipe pode ser decisivo. Quando as pessoas sentem que suas emoções são validadas, elas saem do modo 'sobrevivência' e recuperam clareza e conexão — essenciais para a resolução de problemas e o engajamento sustentável. Attunement não é soft skill — é competência estratégica Embora pareça sutil, a escuta atenta tem efeitos concretos. Líderes que praticam attunement relatam menos reatividade nas equipes, mais confiança, menor resistência e um senso ampliado de pertencimento. E o esforço pode ser mínimo. Um exemplo citado envolve uma gestora que, em meio a uma fusão corporativa, apenas ouviu — com calma e sem interromper — um colaborador aflito com o risco de demissão. Sem prometer nada, ela validou o medo e acolheu o silêncio. Dias depois, o funcionário relatou ter se sentido menos sozinho e mais motivado a continuar contribuindo. Por que tantos líderes ainda falham em se conectar Mesmo sendo gratuito e acessível, attunement esbarra em barreiras comuns: – Falta de referência: muitos líderes nunca foram ouvidos profundamente e não aprenderam a ouvir sem julgar.– Cultura de solução: treinados para agir, líderes muitas vezes ignoram a importância de apenas estar com o outro.– Falta de tempo (ou a ilusão dele): ouvir com presença parece improdutivo, mas na prática dissolve resistências e acelera resultados.– Burnout e estresse crônico: líderes esgotados não conseguem estar emocionalmente disponíveis para os outros.– Comunicação digital: e-mails e mensagens eliminam os sinais corporais que possibilitam a conexão emocional. Como desenvolver attunement em 5 passos Intenção clara: antes de qualquer coisa, decida que sua função é ouvir, não julgar ou resolver. Diga: 'Estou aqui com você. Quero entender.' Estado emocional calmo: respire, desacelere, feche o notebook. Se estiver tenso, adie a conversa. Curiosidade genuína: pergunte sem pressupostos. 'O que foi mais difícil para você?' Escuta com o corpo: observe o tom, os gestos, os silêncios. Mantenha contato visual e valide emoções sem minimizar. Reflexão conjunta: quando o momento emocional passar, pergunte: 'Como você se sente agora? O que precisa neste momento?' A liderança que ancora — e transforma Quando um líder pratica attunement, ele se torna mais do que gestor: torna-se um ponto de apoio emocional em meio ao caos. Essa postura não exige fórmulas, apenas presença: um corpo calmo, uma mente curiosa e um coração aberto. E no fim do dia, como mostram líderes experientes e a própria neurociência, não é a eloquência que constrói confiança — é a atenção silenciosa que sinaliza: 'Você importa.'