Mesmo em um cenário onde a oferta de informação e entretenimento parece infinita, há um limite claro para esse crescimento: o tempo disponível dos usuários O consumo de conteúdo digital está atingindo níveis inéditos, impulsionado pela tecnologia, plataformas de streaming e o crescimento dos criadores de conteúdo. Com a ascensão da inteligência artificial generativa, a barreira para a produção de conteúdo está sendo reduzida drasticamente, levando a um cenário onde a oferta de informação e entretenimento parece infinita. No entanto, há um limite claro para esse crescimento: o tempo disponível dos usuários. Nos últimos 15 anos, o tempo médio de consumo digital cresceu aproximadamente seis horas diárias, segundo estimativas da EMARKETER, parte do Business Insider. Para 2026, espera-se que os americanos passem mais de oito horas por dia imersos em mídias digitais, um número que pode ser ainda maior se forem considerados os menores de 18 anos, que não entram na estatística oficial. A disputa com o sono e o esgotamento das horas livres Considerando que o recomendado para uma boa saúde é dormir cerca de oito horas por noite, sobra um total de 16 horas diárias para dividir entre o consumo de mídia digital e todas as demais atividades cotidianas, como alimentação, exercícios, interações sociais e trabalho. Se o consumo de conteúdo continuar crescendo, a tendência é que cada vez mais atividades sejam substituídas ou reduzidas para acomodar essa nova realidade. Empresas de tecnologia já reconhecem essa disputa pelo tempo livre. Em 2017, o cofundador da Netflix, Reed Hastings, afirmou que sua maior concorrência não era com outras plataformas de streaming, mas com o sono. Hoje, já existem diversos aplicativos e dispositivos voltados para monitoramento e indução do sono, evidenciando o interesse crescente da indústria em ocupar também esse espaço. O impacto do multitasking e a saturação digital Um ponto importante a considerar nos dados sobre consumo digital é a sobreposição de atividades. Muitas pessoas assistem vídeos enquanto trabalham, checam redes sociais enquanto conversam com amigos ou acompanham transmissões enquanto realizam outras tarefas. Esse fenômeno mascara a real disponibilidade de tempo para o consumo de novos conteúdos. Com o avanço contínuo na produção de mídias, a tendência é que usuários se tornem cada vez mais seletivos. Um dos reflexos já apontados por analistas da Bernstein é que o aumento do uso de plataformas gratuitas, como redes sociais e vídeos curtos, pode começar a reduzir a base de usuários de serviços pagos de streaming. Em algum momento, o crescimento do consumo digital atingirá um limite e a concorrência deixará de ser pela ampliação do tempo disponível, passando a ser pela fatia já existente do dia a dia dos usuários. O cenário atual sugere que, mais cedo ou mais tarde, os consumidores precisarão priorizar entre tantas opções, gerando impactos diretos na indústria do entretenimento e da tecnologia. A batalha pelo tempo livre está longe de acabar, mas, ao que tudo indica, a saturação digital está cada vez mais próxima.