Estudo com equipes de resgate revela como pertencimento e segurança psicológica aumentam a resiliência corporativa Liderar uma empresa e comandar uma equipe de busca e salvamento (SAR) parecem tarefas completamente diferentes. De um lado, há reuniões por Zoom e trocas intermináveis de e-mails. Do outro, cordas, macas e escaladas em terrenos acidentados. Mas, segundo uma nova pesquisa da Antioch University, as semelhanças humanas entre os dois mundos são surpreendentes — e oferecem lições valiosas para qualquer gestor que queira construir times mais seguros, engajados e resilientes. O que o resgate ensina sobre o trabalho em equipe Equipes de SAR operam em ambientes de alto risco, onde decisões rápidas podem significar vida ou morte.Empresas também enfrentam seus próprios 'resgates': crises financeiras, falhas operacionais ou erros que podem custar uma marca inteira. A pesquisadora Sarah Seiler, autora do estudo, analisou dados de quase 500 voluntários de busca e salvamento nos EUA. O objetivo era entender o que fazia com que esses grupos se mantivessem coesos e eficazes, mesmo sob pressão extrema. O resultado: as mesmas dinâmicas que salvam vidas nas montanhas podem salvar times corporativos da desmotivação e do esgotamento. Pertencimento e segurança psicológica: a base da confiança Seiler investigou dois fatores-chave na performance das equipes: pertencimento e segurança psicológica. Pertencimento é sentir-se aceito e valorizado pelo grupo por quem se é de verdade. Segurança psicológica, conceito popularizado pela pesquisadora Amy Edmondson (Harvard), é a confiança de que se pode falar, discordar e pedir ajuda sem medo de punição. 'É se sentir corajoso o bastante para questionar o status quo e contribuir com ideias sem medo de retaliação', explica Seiler.'Quando há pertencimento, as pessoas se sentem ouvidas, valorizadas e engajadas — e os erros diminuem.' Sem esse equilíbrio, tanto no resgate quanto no escritório, surgem turnover, falhas e perda de inovação. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O pertencimento vem antes da coragem Um dos achados mais reveladores do estudo é que pertencimento precede a segurança psicológica.Não basta adotar uma política de 'porta aberta' se as pessoas não sentirem que realmente fazem parte do grupo. 'O líder não pode apenas dizer 'fale o que pensa'. Antes, é preciso garantir que todos sintam que pertencem ali', diz Seiler. No ambiente corporativo, isso se traduz em práticas simples — mas consistentes — de inclusão e escuta ativa. Quatro estratégias para líderes inspiradas em equipes de resgate 1. Crie um ambiente inclusivo Times com senso de pertencimento valorizam a contribuição de todos. 'Escutamos todos, respeitamos todos, somos inclusivos', resume Seiler. Evite favoritismos e grupos fechados. Estimule interações genuínas e oportunidades de conexão — seja em treinamentos, mentorias ou momentos informais. 2. Comece com pequenos gestos Não é preciso promover retiros de imersão ou dinâmicas de confiança.A coesão nasce de pequenos atos frequentes — perguntar sobre o andamento de um projeto, checar como alguém está, reconhecer um esforço. Como no SAR, atenção e empatia cotidianas fortalecem vínculos e criam lealdade. 3. Conheça a história de cada pessoa Saber de onde alguém vem — sua trajetória, formação e valores — amplia o entendimento e a cooperação.Um analista que estudou física pode ter soluções inesperadas para um problema financeiro.Perguntar com curiosidade e respeito cria valorização autêntica, não apenas profissional. 4. Faça revisões pós-ação (e valorize o aprendizado) Inspirada nas práticas de resgate, Seiler recomenda as after-action reviews — revisões coletivas após projetos ou crises.Todos têm voz, sem hierarquia ou punição, e o foco é o aprendizado.O professor Scott Hammond, especialista em gestão da Utah State University, reforça: 'Essas revisões quebram barreiras de poder e dão às pessoas a chance de se sentirem ouvidas. Isso serve tanto para o helicóptero de resgate quanto para a reunião de estratégia.' Resiliência: o elo entre segurança e alto desempenho A conclusão das pesquisas de Seiler e Hammond é clara: pertencimento e segurança psicológica geram resiliência.Times que se sentem protegidos e conectados são mais capazes de enfrentar desafios, aprender com erros e voltar mais fortes. 'Cuidamos uns dos outros de forma que estejamos dispostos a voltar e fazer tudo de novo — e ainda mais saudáveis', resume Hammond. Em um mundo empresarial cada vez mais volátil, onde novas tecnologias e crises surgem com frequência, resiliência coletiva é a vantagem competitiva mais valiosa que existe. Liderar é resgatar Criar um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para contribuir não exige heroísmo — exige presença, escuta e empatia.Seja em uma montanha coberta de neve ou em um escritório cheio de prazos, líderes eficazes entendem que equipes saudáveis salvam mais do que resultados: salvam pessoas.