O verdadeiro segredo dos nossos ancestrais para envelhecer bem

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Não basta cortar carboidratos ou levantar pneus de caminhão na academia. Para viver mais e melhor, é preciso investir em laços sociais fortes e em aprendizado constante
Nossos ancestrais caçadores-coletores não tinham garantias de longevidade. Vírus, bactérias e animais perigosos encurtavam vidas com frequência. Ainda assim, quando se trata de doenças modernas como diabetes, problemas cardíacos e até demência, eles parecem levar vantagem.
A explicação óbvia seria a dieta natural e o estilo de vida ativo. De fato, alimentos pouco processados e movimento diário fazem diferença. Mas, segundo o antropólogo Michael Gurven, professor da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, o grande aprendizado desses povos sobre envelhecimento saudável não está na mesa — e sim nas relações humanas.
Mais do que dieta ou exercícios
Em seu livro Seven Decades, resultado de décadas de pesquisa com tribos na América do Sul, Gurven destaca que os grupos estudados têm taxas muito mais baixas de doenças crônicas e cognitivas. E não porque seguem uma “dieta paleolítica” rígida ou rotinas de exercícios extremos.
Ao contrário, comem bastante carboidrato — como milho e batata-doce — e mantêm atividades físicas moderadas, ligadas ao cotidiano. “É absurdo pensar que exista uma dieta ideal universal”, afirma Gurven.
O que realmente chamou sua atenção foi o papel central da socialização. Nas aldeias, pessoas de todas as idades interagem constantemente, e todos são estimulados a participar. Essa prática mantém a mente ativa e cria uma rede de apoio emocional e comunitário que se estende por toda a vida.
A ciência moderna confirma
Os achados de Gurven se conectam ao Estudo de Desenvolvimento Adulto de Harvard, que acompanha famílias há mais de 80 anos. A principal conclusão? O fator mais determinante para envelhecer com saúde não é a alimentação, mas sim a qualidade dos relacionamentos.
Robert Waldinger, diretor do estudo, compara vínculos sociais a exercícios físicos: precisam ser cultivados de forma contínua. Ele resume a prática na chamada regra 5-3-1, que estimula contatos frequentes com pessoas próximas para manter a “aptidão social” em dia.
Outro ponto essencial é o aprendizado contínuo. Pesquisadores como Rachel Wu e Jessica Church comprovaram que idosos matriculados em aulas de dança ou idiomas melhoraram suas capacidades cognitivas a ponto de se equiparar a pessoas 30 anos mais jovens — e continuaram evoluindo mesmo após o término dos cursos.
O que realmente importa para envelhecer bem
A lição é clara: não basta cortar carboidratos ou levantar pneus de caminhão na academia. Para viver mais e melhor, é preciso investir em laços sociais fortes e em aprendizado constante.
Assim, antes de seguir a próxima moda de dieta “ancestral” ou treino “paleo”, vale refletir: o que nossos ancestrais tinham de mais valioso era a conexão com os outros e o senso de propósito que vinha de ensinar, aprender e conviver em comunidade.
No fim das contas, o segredo para envelhecer bem está menos no prato e mais nas pessoas ao nosso redor.