Num mercado competitivo por talentos, até detalhes considerados 'bobos' podem ajudar a transmitir cultura e atrair candidatos que buscam ambientes mais humanos e inovadores Esqueça as sextas-feiras casuais com tênis coloridos: a nova tendência em startups do Vale do Silício é trabalhar sem sapatos. A prática, que pode soar excêntrica para ambientes corporativos mais tradicionais, tem ganhado força em empresas de tecnologia e está dividindo opiniões entre profissionais e usuários de redes sociais. A reportagem da Fortune cita a Cursor, companhia de IA avaliada em quase US$ 10 bilhões, como exemplo de empresa que adotou a política do 'no shoes'. Outras companhias menores, como a Speak (startup de idiomas apoiada pela OpenAI), a Whop (marketplace de produtos digitais) e até players mais consolidados, como a Substack, também já aderiram ao hábito. Conforto ou exagero? Ben Lang, funcionário da Cursor, publicou no X que só havia trabalhado em startups com a política de andar descalço. O post viralizou com mais de um milhão de visualizações, atraindo reações intensas: de quem achou a ideia inovadora a quem considerou o costume pouco higiênico. Para visitantes, a Cursor criou soluções práticas: disponibiliza sapatilhas descartáveis ou chinelos para evitar sujeira no ambiente. Ainda assim, comentários irônicos não faltaram, como o de um usuário que associou a prática ao já polêmico retorno ao escritório: 'Voltar para o escritório já é ruim o bastante. E agora isso?' O impacto no ambiente de trabalho De acordo com Anita Williams Woolley, professora de comportamento organizacional da Carnegie Mellon University, políticas assim podem reduzir a formalidade, aumentar o conforto e até estimular a criatividade. 'Vivemos em um momento em que a ansiedade é epidêmica. Um ambiente mais relaxado pode encorajar conexões significativas e fortalecer a coesão da equipe', afirmou à Fortune. Esse efeito, segundo Woolley, vai além da curiosidade de ver meias coloridas dos colegas: trata-se de uma forma de suavizar a rotina intensa das startups e estimular laços sociais em um período em que amizades no escritório parecem cada vez mais raras. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção A moda pode pegar? É difícil imaginar grandes corporações tradicionais, que ainda exigem terno e gravata, flexibilizando a esse ponto. Nas discussões em fóruns como o Reddit, as opiniões se dividem: enquanto alguns reclamam do cheiro ou da falta de etiqueta, outros não veem problema. Um fotógrafo em um coworking relatou: 'No verão, muita gente anda descalça. Para mim, tanto faz. Não vejo problema nenhum.' A verdade é que, para muitos profissionais da Geração Z, acostumados a trabalhar em casa durante a pandemia, a ideia não soa tão estranha. Para esse grupo, conforto e autenticidade são partes centrais da experiência no trabalho. O que sua empresa pode aprender Não se trata de sugerir que todas as companhias abandonem os sapatos. Mas pequenos gestos de flexibilidade, como permitir esse tipo de prática em dias casuais, podem enviar uma mensagem poderosa: a de que a empresa está aberta a mudanças, valoriza o bem-estar e estimula a criatividade. Num mercado competitivo por talentos, até detalhes considerados 'bobos' podem ajudar a transmitir cultura e atrair candidatos que buscam ambientes mais humanos e inovadores. Afinal, às vezes, grandes transformações começam com passos — ou descalços.