Quando o 'porquê' acompanha o 'o quê', o desempenho acelera e o comprometimento cresce As tensões entre gerações no ambiente profissional não são novidade. Boomers, Millennials e agora a Geração Z carregam rótulos que nem sempre refletem a realidade — de preguiça a excesso de sensibilidade. Mas, por trás das generalizações, existe um padrão importante: cada geração chega ao mercado com expectativas e repertórios distintos. E liderar esses grupos exige menos julgamento e mais entendimento. Nos últimos anos, relatórios e pesquisas têm revelado que aquilo que muitos gestores interpretam como desmotivação ou 'falta de vontade' entre jovens profissionais pode, na verdade, ser uma necessidade diferente de contexto. A Geração Z não responde bem ao comando direto — o clássico 'faça porque eu estou mandando'. Para esse grupo, compreender o propósito por trás das tarefas é essencial para que se engajem de verdade. O poder do 'porquê' na motivação da Gen Z Explicar o propósito de uma atividade logo no início ajuda jovens profissionais a ver o quadro completo. Isso aumenta engajamento, promove autonomia e melhora a tomada de decisão. A lógica é simples: quando entendem o impacto do trabalho, eles não apenas executam — eles se apropriam dele. Essa visão tem ganhado força inclusive em grandes marcas. A Nike, por exemplo, reformulou sua comunicação para atrair jovens consumidores com a campanha 'Why Do It?', sugerindo que o 'porquê' pode ser tão importante quanto o famoso 'Just Do It'. A mensagem por trás dessa mudança ecoa um comportamento geracional: a busca por significado, coerência e clareza. Transparência como antídoto para a ansiedade Parte dessa necessidade está ligada ao modo como a Gen Z cresceu. Segundo especialistas citados pela Psychology Today, jovens que consomem grandes volumes de informação nas redes sociais têm mais ansiedade e maior sensibilidade a ambientes que parecem obscuros ou autoritários. A sensação de 'ver tudo' online torna ainda mais evidente quando a comunicação interna de uma empresa parece insuficiente. Por isso, muitos jovens interpretam a falta de contexto como desorganização, rigidez ou até desrespeito. Explicar o propósito — por que algo importa, como se conecta a objetivos maiores, qual impacto terá no resultado final — não é apenas um gesto de empatia; é uma estratégia de engajamento. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Quando a frustração é maturidade em formação Debates em fóruns online mostram que nem sempre a dificuldade vem de resistência. Em muitos casos, vem de imaturidade natural. Parte da Gen Z atravessou a faculdade de forma remota e perdeu vivências que antes ajudavam a desenvolver habilidades sociais. Outros estão em seu primeiro emprego e nunca receberam treinamento consistente. Para esses jovens, a falta de contexto pode gerar insegurança ou medo de errar, o que se traduz em lentidão, hesitação ou dependência de orientação. O que alguns veem como 'entitlement' pode ser apenas aprendizado em curso. O papel do líder nessa nova dinâmica Para extrair o melhor da Geração Z, líderes podem ajustar algumas práticas: 1. Explique o propósito antes da tarefa.Mostre como o trabalho se conecta ao resultado maior. Sem essa clareza, o engajamento cai. 2. Aumente o treinamento.Relatórios recentes mostram que a Gen Z busca mais desenvolvimento e capacitação do que gerações anteriores. 3. Reforce autonomia com orientação.Dar contexto não significa microgerenciar; é oferecer mapa antes de delegar o caminho. 4. Seja transparente.Ambientes que operam apenas no 'faça' tendem a elevar a ansiedade e reduzir a iniciativa. Nem preguiça, nem rebeldia — apenas outra forma de trabalhar A Geração Z não é menos capaz, dedicada ou resiliente. Ela só foi formada em um ambiente diferente, com outras dinâmicas emocionais e outras referências de consumo de informação. Quando o 'porquê' acompanha o 'o quê', o desempenho acelera e o comprometimento cresce. No fim, liderar essa geração não é uma batalha, mas uma oportunidade: a chance de formar profissionais mais conscientes, criativos e alinhados — desde que saibam exatamente por que o trabalho importa.