Quando uma vaga de liderança abre, o impulso é premiar quem já tem diploma de gestor. Mas vale parar e olhar para quem carrega a operação nas costas A promoção para cargos de liderança costuma seguir uma lógica previsível: escolher quem já 'foi líder antes'. Parece seguro. Parece racional. Mas nem sempre é o melhor caminho para o resultado do negócio. Uma história relatada na Inc. expõe esse dilema de forma direta e incômoda: ao preencher uma vaga de supervisor de produção, a escolha recaiu sobre o candidato com currículo mais 'gerencial' e menos chão de fábrica. Ele cumpriu a função. Só não entregou a liderança que o time precisava. O caso envolve dois perfis comuns em qualquer empresa industrial. De um lado, um colaborador com 15 anos de casa, altamente técnico, bom formador de novos funcionários, energético e engajado, mas sem experiência formal em liderança. Do outro, um profissional com passagem por cargos de gestão e um feito recente de peso: conduziu o time a uma certificação ISO. A decisão foi pelo caminho tradicional. E o resultado mostrou a diferença entre administrar e liderar. Steve Jobs já havia descrito essa armadilha ao contar como a Apple, nos primeiros anos, decidiu contratar 'profissionais de gestão' para acompanhar o crescimento. Na prática, não funcionou. Eles sabiam gerenciar, controlar processos, impor regras. Mas não sabiam fazer. E, sem entender o trabalho real, não conseguiam puxar o time para um padrão mais alto de execução. Quando gestão vira um fim em si mesma O gerente promovido fazia tudo o que se espera de um supervisor 'profissional': garantia aderência a processos, conduzia avaliações, montava planos de desenvolvimento, acompanhava indicadores. Do ponto de vista burocrático, a vaga estava preenchida. Do ponto de vista operacional e humano, não. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção A crítica não é à gestão em si. É ao tipo de liderança que se limita a manter o que já existe. A situação exigia alguém incomodado com a produtividade atual, irritado com falhas de qualidade, frustrado com a baixa promoção de operadores para funções mais altas. Não bastava supervisionar o presente. Era preciso puxar o futuro. O que diferencia um líder que entrega Jobs defendia que os melhores gestores são, muitas vezes, os grandes contribuidores individuais que nunca quiseram virar chefes. Eles aceitam a liderança por um motivo específico: sabem que o time pode fazer melhor e assumem o cargo porque ninguém mais fará isso com o mesmo nível de exigência e domínio técnico. Esse tipo de gerente entra para resolver problemas reais, não para apenas administrar rotinas. Ele conhece a operação a ponto de enxergar onde estão os gargalos, entende a linguagem do chão de fábrica e tem autoridade natural para mudar padrões. A equipe não o segue pelo cargo, mas pela competência. E a falta de 'jeito de gerente'? Aprende-se. Liderança não nasce pronta. Ela se constrói com prática, referência e responsabilidade. Já a capacidade de realizar e elevar o padrão de execução, quando vem do histórico de contribuição consistente, é muito mais difícil de ensinar do zero. Por que o time prefere esse perfil Há um motivo psicológico e prático para isso. Um estudo mostra que ter um chefe que sabe 'fazer o trabalho' é o fator que mais influencia a satisfação dos funcionários. Em termos simples: se o seu líder conseguiria ocupar sua posição sem travar, você confia mais nele. E trabalha melhor. A lição para próximas promoções Quando uma vaga de liderança abre, o impulso é premiar quem já tem diploma de gestor. Mas vale parar e olhar para quem carrega a operação nas costas, quem resolve, quem ensina, quem melhora o processo mesmo sem cargo. Esse profissional talvez não tenha buscado liderança. Mas pode ser exatamente quem lidará com o trabalho de verdade.