Funcionários relatam aumento na pressão por desempenho em meio às incertezas políticas e temem impactos na saúde mental Com mais de 7 mil funcionários nos Estados Unidos, o TikTok enfrenta um período de forte instabilidade. Enquanto a empresa lida com desafios políticos que podem resultar no banimento do aplicativo no país, seus funcionários relatam pressão crescente, aumento nas metas de desempenho e um ambiente de trabalho cada vez mais exaustivo. As avaliações de desempenho, por exemplo, tornaram-se uma fonte constante de ansiedade para os trabalhadores. Desde o ano passado, gestores foram orientados a avaliar os funcionários de forma mais rigorosa, aumentando o risco de cortes em bônus e inclusão em planos de melhoria de desempenho (PIPs), que podem levar à demissão. Diante desse cenário, o esgotamento profissional tem se tornado um problema recorrente dentro da empresa. Dez funcionários atuais e ex-colaboradores do TikTok nos EUA compartilharam com o Business Insider relatos sobre um ambiente de trabalho marcado por exaustão, sobrecarga e incerteza, que tem levado muitos a tirarem licença por saúde mental. Burnout e pedidos de afastamento A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o burnout como um estresse ocupacional crônico que não foi gerenciado com sucesso. No TikTok, essa realidade tem sido cada vez mais comum, segundo relatos de funcionários. Cinco entrevistados afirmaram que pedidos de afastamento por motivos de saúde mental aumentaram dentro da empresa, com afastamentos médios de dois a três meses. Embora o TikTok não divulgue dados sobre essas licenças, os funcionários dizem que é um tema frequente nas conversas internas. “Todos falamos sobre isso. Enviávamos mensagens privadas e descobríamos rapidamente quando alguém estava afastado por burnout”, afirmou um ex-funcionário. Em uma das equipes, cerca de 20% dos funcionários estavam afastados ao mesmo tempo por questões de saúde mental. Outro funcionário disse ter conhecimento de pelo menos seis colegas que tiraram licenças médicas relacionadas ao estresse no trabalho. Entre os fatores que agravam o problema, destacam-se: Metas cada vez mais agressivas, com menos recursos disponíveis para cumpri-las. Reorganizações frequentes dentro da empresa, aumentando a instabilidade. Ambiente de trabalho imprevisível, com mudanças constantes nos gestores e na estrutura corporativa. Incerteza sobre o futuro do aplicativo nos EUA, que pode ser banido pelo governo. TikTok reflete a cultura de pressão das big techs Embora o TikTok tenha desafios particulares, os problemas relatados pelos funcionários refletem uma tendência crescente no setor de tecnologia. Empresas como Meta, Google e Microsoft têm intensificado a pressão sobre seus funcionários nos últimos anos, reduzindo benefícios, exigindo mais produtividade e adotando critérios rígidos para avaliações de desempenho. Em 2024, uma pesquisa da Littler Mendelson, com executivos e profissionais de RH nos EUA, mostrou que 74% das empresas registraram aumento nos pedidos de afastamento por saúde mental. No caso do TikTok, o cenário é ainda mais tenso devido às incertezas políticas. Caso o aplicativo não consiga um acordo com o governo Trump até abril de 2025, ele poderá ser removido das lojas de aplicativos e potencialmente encerrado no país. “A incerteza sobre o futuro do TikTok nos EUA tem um grande impacto no burnout. Não sabemos se teremos emprego em alguns meses”, disse um funcionário atual da empresa. Cultura de trabalho intenso e influência chinesa O TikTok e sua controladora, ByteDance, são conhecidos por uma cultura corporativa de alta exigência. Dentro da empresa, é comum o lema “construindo o avião enquanto ele está voando”, refletindo o constante teste e reformulação de projetos. Com frequência, o TikTok passa por reorganizações e cortes de equipe, muda drasticamente metas de desempenho e implementa novas políticas rigorosas, como a exigência de trabalho presencial integral para algumas equipes. Muitos dos líderes que assumem posições de destaque no TikTok vêm diretamente da ByteDance, na China, trazendo um modelo de gestão baseado na cultura de trabalho das empresas chinesas de tecnologia. A “cultura 996”, popular na China – onde funcionários trabalhavam das 9h às 21h, seis dias por semana – influenciou a forma como a ByteDance e outras empresas operam. Embora o governo chinês tenha proibido essa prática, muitos funcionários nos EUA relatam que ainda há expectativas de longas jornadas de trabalho e disponibilidade constante. “Havia muitos líderes vindos da ByteDance, e eles operavam de maneira completamente diferente. A visão era de que os EUA e outros países simplesmente não trabalham tão rápido quanto a China”, contou um ex-funcionário. O dilema dos funcionários: pressão vs. altos salários Apesar do ambiente exigente, o TikTok oferece salários competitivos, sendo uma das empresas mais bem remuneradas do setor de tecnologia. Isso faz com que muitos funcionários permaneçam na empresa, mesmo diante da exaustão. “Os salários altos funcionam como ‘algemas de ouro’. Mesmo com o estresse, as pessoas hesitam em sair porque sabem que dificilmente encontrarão a mesma remuneração em outro lugar”, disse um ex-funcionário. Além disso, o mercado de trabalho no setor de tecnologia segue desafiador. As vagas para desenvolvedores de software nos EUA estão 36,5% abaixo do nível pré-pandemia, segundo dados do Indeed Hiring Lab. Futuro incerto Enquanto os funcionários lidam com pressões internas e incertezas políticas, a questão que paira no ar é: o que acontecerá com o TikTok nos EUA? Se o governo Trump decidir pelo banimento do aplicativo e a empresa não conseguir um comprador americano, o TikTok poderá desaparecer do país em poucos meses, deixando milhares de funcionários sem emprego. “Às vezes, nos perguntamos por que ainda estamos nos esforçando tanto, se em algumas semanas esse trabalho pode nem existir mais”, desabafou um funcionário. Com um cenário tão instável, a única certeza dentro do TikTok parece ser a constante mudança – e o impacto que isso tem na saúde mental de seus trabalhadores.