O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, sinalizou que produtos que não são cultivados no país, como café, cacau e manga, podem receber tarifa zero A possibilidade de um imposto de até 50% sobre o café brasileiro nos Estados Unidos levantou expectativas curiosas no mercado interno. Pela lógica da lei de oferta e demanda, se o Brasil tivesse dificuldade para escoar sua produção no exterior, a consequência seria um aumento da oferta doméstica e, consequentemente, uma queda nos preços internos. O famoso cafezinho poderia ficar mais barato para o consumidor brasileiro. Mas esse cenário não deve se confirmar. O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, sinalizou que produtos que não são cultivados no país, como café, cacau e manga, podem receber tarifa zero. Isso afastaria a ameaça imediata ao setor e mudaria as projeções sobre os preços no Brasil. O peso do café brasileiro no mercado mundial O Brasil ocupa posição central no mercado global de café. Segundo analistas da StoneX, o país responde por cerca de 40% de toda a oferta mundial. Apenas os Estados Unidos consomem 17% do café brasileiro exportado, o equivalente a aproximadamente 8 milhões de sacas por ano. Esse protagonismo faz com que qualquer alteração nas regras comerciais entre Brasília e Washington tenha repercussões diretas. Sem o café brasileiro, o abastecimento norte-americano entraria em crise, já que os EUA produzem apenas 1% do que consomem. A ameaça de uma tarifa de 50% O anúncio inicial do presidente Donald Trump sobre um 'tarifaço' de 15% a 20% para a maioria dos países gerou preocupação. No caso do Brasil, a alíquota poderia chegar a 50%. Essa taxação inviabilizaria a exportação para os EUA, encarecendo o café no mercado americano e criando um excesso de oferta no Brasil. Em tese, esse excedente pressionaria os preços para baixo no mercado interno. Para o consumidor brasileiro, isso significaria pagar menos pelo cafezinho do dia a dia. Por que a queda de preços não deve acontecer Apesar da lógica econômica, a fala do secretário Howard Lutnick muda o panorama. Em entrevista à CNBC, ele afirmou que 'recursos naturais' que não são produzidos pelos EUA podem entrar sem tarifa. Entre os exemplos citados, estava o café. Se essa diretriz for confirmada, a exportação brasileira para os Estados Unidos seguirá sem obstáculos, mantendo os preços no patamar atual. Na prática, o consumidor no Brasil não verá o efeito esperado do excesso de oferta. Dependência dos EUA e dificuldade de substituição Outro ponto relevante é a dependência norte-americana do café arábica brasileiro. Os EUA compram a maior parte desse tipo, que é considerado de melhor qualidade. A Colômbia, segundo maior produtor, não teria condições de substituir a fatia que o Brasil ocupa. Isso torna improvável que os Estados Unidos mantenham tarifas elevadas contra o café brasileiro por muito tempo. Sem um grande fornecedor alternativo, o impacto no mercado interno norte-americano seria imediato. A crise atual da produção de café Além da tensão comercial, o setor cafeeiro enfrenta um cenário desafiador. Oscilações climáticas, como secas prolongadas e geadas, têm afetado a produtividade no Brasil nos últimos anos. A instabilidade climática, somada a custos elevados de produção e logística, pressiona produtores e encarece o produto. Esses fatores ajudam a explicar por que o café segue com preços firmes, mesmo diante da possibilidade de retração nas exportações. A escassez relativa em algumas regiões impede que o excesso de oferta se materialize em queda significativa de preços no mercado doméstico. Oferta e demanda em jogo Se o tarifaço fosse implementado de forma plena, a lei da oferta e demanda poderia, de fato, alterar o cenário brasileiro. Com a impossibilidade de exportar grande volume, os estoques internos cresceriam e os preços cairiam. No entanto, essa hipótese perde força diante da sinalização americana de manter tarifa zero para o café. O que se desenha, portanto, é um cenário de continuidade: exportações brasileiras fluindo para os EUA, preços internacionais sustentados e pouca chance de alívio no bolso do consumidor brasileiro. O que esperar daqui para frente O episódio evidencia a vulnerabilidade do Brasil diante das disputas comerciais globais. Mesmo sendo líder na produção, o país ainda depende de decisões externas para definir o destino de seu principal produto agrícola de exportação. Enquanto isso, produtores e consumidores seguem atentos. Para quem sonhava com um cafezinho mais barato, a realidade é que o preço continuará sujeito a fatores como clima, custos internos e dinâmica do mercado internacional — mais do que às oscilações políticas em Washington.