Você é um “otrovert”? O novo tipo de personalidade que desafia rótulos e pode explicar seu jeito de ser

Créditos: Adobe Stock
Ser um “otrovert” pode ser libertador — desde que você não use isso como desculpa para se isolar do mundo
Se você já se sentiu deslocado entre introvertidos e extrovertidos — sem se encaixar bem em nenhum dos dois perfis — talvez tenha encontrado uma nova palavra para se definir: “otrovert”. O termo, cunhado pelo psiquiatra do Mount Sinai Rami Kaminski em seu livro The Gift of Not Belonging, vem chamando atenção por oferecer uma nova lente para entender como algumas pessoas lidam com identidade, pertencimento e independência.
O que é um “otrovert”?
Diferente dos introvertidos, que se desgastam com interações sociais, e dos extrovertidos, que se energizam com elas, os otroverts simplesmente não se definem em função dos outros. “São pessoas que não sentem a obrigação de fundir sua identidade com grupos”, explica Kaminski à New Scientist.
Eles não são tímidos nem antissociais — apenas não sentem necessidade de pertencer. Segundo o autor, essa postura confere duas vantagens poderosas: originalidade e independência emocional.
“Quando você não pertence a nenhum grupo, não está sujeito às suas regras implícitas. Isso permite pensar e criar livremente, sem o peso do pensamento coletivo”, escreve Kaminski.
Os “anti-joiners”
A terapeuta Jennifer Chase Finch, que também se descreve como otrovert, define o perfil como “os que simplesmente não conseguem se juntar”. Para ela, essas pessoas evitam religiões organizadas, tribos políticas e qualquer movimento que exija lealdade incondicional. “Eles não entendem a lógica de sacrificar uma mente diferenciada só para pertencer à colmeia”, escreveu no Medium.
Kaminski acredita que figuras como Frida Kahlo e Albert Einstein provavelmente eram otroverts — mentes originais que desafiaram convenções e criaram a partir de um olhar independente.
A sedução (e o perigo) dos rótulos
É natural sentir um alívio ao encontrar um conceito que “explica” quem somos. Mas há um paradoxo curioso em usar um rótulo social para descrever justamente quem rejeita rótulos.
Psicólogos alertam para o Efeito Barnum, a tendência humana de se identificar com descrições amplas e genéricas. Foi o que o pesquisador Bertram Forer demonstrou ainda nos anos 1940, ao mostrar que a maioria das pessoas se vê refletida em testes de personalidade falsos.
Além disso, estudos mostram que nossa personalidade muda ao longo do tempo. Uma pesquisa apontou que o perfil psicológico de uma pessoa aos 14 anos não tem quase nenhuma semelhança com o de quando ela chega aos 75. Ou seja, qualquer rótulo corre o risco de se tornar uma prisão.
“Se você se limita a um tipo fixo de personalidade, corre o perigo de usar o rótulo para justificar comportamentos ou evitar o crescimento pessoal”, alertam os psicólogos Kelvin Wong e Wenting Chen no The Conversation.
O que empreendedores podem aprender com isso
Se identificar como otrovert pode ser útil — especialmente se isso o ajuda a aceitar sua autonomia e valorizar seu estilo de pensamento independente. Pessoas com essa característica tendem a ser líderes criativos, inovadores e corajosos, capazes de enxergar oportunidades fora do consenso.
Mas a lição mais valiosa talvez seja outra: não se esconder atrás de rótulos. Em um mundo que exige colaboração e propósito coletivo, a autenticidade não precisa excluir o senso de comunidade. Mesmo os mais independentes precisam, em algum momento, participar de algo maior.
Em resumo: ser um “otrovert” pode ser libertador — desde que você não use isso como desculpa para se isolar do mundo. A verdadeira força está em saber quando manter sua independência e quando somar sua voz ao coro de quem está construindo o futuro.