A síndrome do impostor vira problema quando empurra o líder para controle excessivo ou silêncio defensivo Há uma expectativa silenciosa sobre quem ocupa posições de liderança: a de que essa pessoa deve transmitir certeza o tempo todo. Segurança, clareza, respostas rápidas, controle emocional. Só que o bastidor de muitos gestores é bem diferente. Eles lideram enquanto carregam dúvidas internas, medo de não estar à altura e a sensação de que, a qualquer momento, alguém vai descobrir que eles não são tão competentes quanto parecem. Essa é a síndrome do impostor aplicada à liderança, e ela está mais presente do que as empresas imaginam. A síndrome do impostor é comum em ambientes de alta exigência e visibilidade, especialmente quando o profissional está em transição para desafios maiores. O sentimento de inadequação não nasce de falta de capacidade, mas de uma percepção distorcida do próprio valor, amplificada por comparação constante e cobrança interna. Em líderes, esse ruído emocional costuma ganhar força porque a pressão do cargo dá pouco espaço para vulnerabilidade. Por que líderes se sentem impostores A liderança coloca a pessoa diante de um paradoxo. Ela precisa sustentar o time, mas também precisa aprender. Só que aprender, em cargos altos, parece perigoso. Muitos gestores interpretam dúvidas como fraqueza, então escondem insegurança e tentam compensar com excesso de controle. É um mecanismo de proteção: se eu parecer 100% seguro, ninguém vai questionar minha legitimidade. Esse mecanismo é alimentado por histórias culturais antigas. A ideia do líder que 'nasceu pronto', carismático, sempre convicto, ainda sobrevive nos imaginários corporativos. Quem não se encaixa nesse molde conclui que está falhando. E a mente, em modo de comparação, vira uma fábrica de evidências contra si: qualquer erro vira prova de que eu não deveria estar aqui. O impacto invisível na equipe O problema não é sentir insegurança, é o que se faz com ela. Quando a síndrome do impostor domina, o líder pode cair em dois extremos. O primeiro é o perfeccionismo. Ele revisa tudo, centraliza decisões pequenas e dificulta autonomia porque teme que uma falha alheia recaia sobre sua reputação. O segundo extremo é a evasão. Ele evita conflitos, adia decisões difíceis e busca consenso excessivo para não ser responsabilizado. Ambos os caminhos afetam o time. Perfeccionismo gera microgestão e cansaço coletivo. Evasão gera ambiguidade e insegurança no grupo. Em nenhum dos casos a equipe entende a raiz emocional do comportamento. Ela só sente o efeito: menos clareza, menos confiança e um ritmo de trabalho mais tenso. A inteligência emocional que quebra o ciclo O primeiro passo é reconhecer o sentimento sem transformá-lo em identidade. Sentir-se impostor não significa ser impostor. Significa estar em um território de expansão. A emoção é um sinal de ajuste interno, não um veredito sobre competência. Quando o líder entende isso, o medo perde a capacidade de guiar decisões sozinho. O segundo passo é trocar comparação por critério. Em vez de medir valor pelo que outros parecem entregar, o líder precisa olhar para evidências reais do próprio impacto: resultados construídos, times desenvolvidos, problemas resolvidos, aprendizados acumulados. Critério reduz ruído porque dá chão para o cérebro quando ele tenta inventar insegurança. Liderar sem fingir invulnerabilidade Uma liderança madura não é a que nunca duvida. É a que sabe lidar com a dúvida sem contaminar o time com pânico nem com rigidez. Isso inclui pedir ajuda quando necessário, expor limites com responsabilidade e mostrar que aprender faz parte da função. Curiosamente, esse tipo de abertura aumenta respeito, porque humaniza o cargo e constrói confiança. No fim, ninguém precisa se sentir pronto para liderar bem. Liderar é um processo, não um estado final. A síndrome do impostor vira problema quando empurra o líder para controle excessivo ou silêncio defensivo. Quando é reconhecida e regulada, ela vira só mais uma emoção atravessada com inteligência emocional. E isso, por si só, já é liderança em prática.