Em um mundo obcecado por produtividade heroica, a lição da ciência é clara: fazer mais não significa trabalhar mais horas Mark Manson começou a década de 2010 como um blogueiro popular, conhecido por transformar conselhos de autoajuda em textos acessíveis e virais nas redes sociais. Seu sucesso lhe garantiu um contrato editorial, mas havia uma dúvida: será que sua fórmula online funcionaria no mundo dos livros? Em 2016, a resposta veio com força. O lançamento de A sutil arte de ligar o F*da-se virou um fenômeno cultural, vendeu mais de 20 milhões de cópias e consolidou Manson como um dos autores de não ficção mais influentes da geração. O curioso é que, segundo ele próprio revelou, o maior aprendizado no processo de escrita não foi sobre marketing ou narrativa, mas sobre limites da produtividade — algo que batizou de 'a regra das 4 horas'. Quando mais trabalho não significa mais resultado Manson contou que passou 18 meses escrevendo o livro. Durante boa parte desse tempo, trabalhava entre oito e dez horas por dia. Mas os resultados só vieram quando reduziu drasticamente a carga. 'Nos três meses em que trabalhei menos, produzi mais', afirmou. O motivo? O excesso de horas o fazia se perder em reescritas, cortes e reorganizações. Quando passou a focar em escrever apenas algo de qualidade — fosse um parágrafo ou 20 páginas — descobriu que tinha cerca de quatro horas de energia criativa por dia. O que vinha depois disso precisava quase sempre ser descartado. A virada aconteceu quando respeitou esse limite: 'Dentro de três meses, o rascunho inteiro estava pronto', relatou. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O respaldo da ciência e da história O que Manson descobriu por tentativa e erro já era confirmado por diversos estudos. Pesquisas conduzidas pelo psicólogo Anders Ericsson com músicos de elite mostram que, embora acumulem milhares de horas de prática ao longo da vida, quase sempre o fazem em sessões de no máximo quatro horas. O mesmo padrão aparece em atletas olímpicos de modalidades como levantamento de peso. Historiadores também identificaram que gênios como Charles Darwin, Gabriel García Márquez e Henri Poincaré trabalhavam em blocos concentrados de poucas horas. Até sociedades de caçadores-coletores, analisadas pelo antropólogo Marshall Sahlins, organizavam sua rotina em jornadas de três a cinco horas de esforço intenso por dia. Como aplicar a regra das 4 horas no trabalho moderno É importante frisar que a regra não significa passar o resto do dia sem fazer nada. Ela se refere ao período de foco profundo necessário para resolver tarefas cognitivamente exigentes, como escrever, criar, planejar ou inovar. Atividades menos desafiadoras — responder e-mails, organizar processos, cuidar da casa — podem preencher as demais horas. O ponto central é que tentar estender indefinidamente o tempo de trabalho criativo é ineficiente e desgastante. O segredo está em proteger as 'quatro horas de ouro': eliminar distrações, concentrar-se no que realmente importa e aceitar que a mente humana tem um limite natural de desempenho. Em um mundo obcecado por produtividade heroica, a lição de Manson e da ciência é clara: fazer mais não significa trabalhar mais horas. Significa usar bem as poucas horas de verdadeira concentração que temos disponíveis a cada dia.