Em janeiro, 69,7% das mulheres entre 25 e 44 anos que vivem com crianças de até 5 anos nos Estados Unidos estavam no mercado. Em junho, a taxa caiu para 67% A participação de mulheres com filhos pequenos na força de trabalho americana está caindo quase mês a mês, atingindo o menor nível dos últimos três anos. O dado, revelado pelo U.S. Census Bureau e analisado pela professora Misty Heggeness, da Universidade do Kansas, expõe uma mudança que pode alterar dinâmicas internas e impactar estratégias de recrutamento. Em janeiro, 69,7% das mulheres entre 25 e 44 anos que vivem com crianças de até 5 anos estavam no mercado. Em junho, a taxa caiu para 67%. Embora ainda acima do nível de 2021 — marcado pela pandemia —, a queda praticamente anulou os avanços obtidos na recuperação pós-crise sanitária. Flexibilidade em queda, impacto em alta A retração tem uma explicação direta: a reversão de políticas de trabalho remoto ou híbrido. Essas modalidades, valorizadas por pais que conciliam carreiras e responsabilidades domésticas, vinham ampliando a participação feminina. Mas, com empresas exigindo mais presença física sob o argumento de eficiência, muitas mães foram desestimuladas a permanecer ou buscar recolocação. O efeito é ampliado pelo fim de políticas públicas e cortes de vagas no setor federal, historicamente visto como porto seguro para trabalhadores com demandas familiares. Como apontam estudos, o peso desproporcional dos cuidados ainda recai sobre as mulheres — o que torna a perda de flexibilidade especialmente crítica para elas. Retrocesso e desigualdade Especialistas alertam para um movimento de 'retrocesso silencioso' nas conquistas de inclusão e diversidade. Heggeness descreve o momento como um reflexo da 'energia de retorno ao escritório' imposta de cima para baixo, muitas vezes por lideranças que defendem uma visão tradicional e até abertamente masculinizada do trabalho. Além disso, a tendência dialoga com outra preocupação: mulheres usam menos IA no trabalho do que homens e estão mais expostas a substituição por essas tecnologias, já que ocupam mais funções de entrada — alvo preferencial de automação. O que líderes podem fazer agora Kate Bahn, economista-chefe do Institute for Women's Policy Research, lembra que os EUA são a única economia avançada a registrar queda na participação feminina nos últimos 20 anos, em grande parte pela ausência de redes de apoio ao cuidado. Para empresas, o momento exige uma revisão urgente de políticas de atração e retenção. O exemplo de Jane Fraser, CEO do Citigroup, mostra um caminho possível: manter parte da flexibilidade conquistada na pandemia para atrair mães qualificadas. Essa decisão tem gerado resultados positivos em recrutamento e engajamento. A mensagem é clara: há um contingente de profissionais talentosas, criativas e experientes fora do mercado por barreiras que poderiam ser removidas. Companhias dispostas a adaptar suas políticas não apenas ganham em diversidade, mas também em vantagem competitiva.