Com IA assumindo tarefas técnicas, Nadella diz que empatia vira diferencial. Mas dados mostram efeito oposto. A inteligência artificial já não é promessa. Ela está redefinindo o escritório por dentro, da automação de tarefas simples até a forma como as pessoas se candidatam a vagas e se relacionam no dia a dia. Nessa virada, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, fez um alerta direto: não basta ser tecnicamente brilhante. É preciso ser emocionalmente inteligente. A fala veio no podcast MD Meets, em conversa com Mathias Döpfner, CEO da Axel Springer, e ganhou repercussão em veículos como o Times of India. Nadella argumentou que o velho combo de QI alto e conhecimento técnico perdeu exclusividade como passaporte para crescer na carreira. Para ele, ter IQ sem EQ é desperdiçar capacidade. Na prática, significa que o que diferencia profissionais e líderes na era da IA não é só resolver problemas, mas entender pessoas. Quando a IA sobe, empatia vira motor O raciocínio de Nadella é simples. À medida que a IA assume mais funções rotineiras e técnicas, o trabalho humano migra para desafios mais ambíguos, estratégicos e colaborativos. Isso exige mais conversa, mais alinhamento e mais leitura de contexto. E contexto, na visão dele, é um território que máquinas não dominam. Por isso, ele coloca empatia no centro. Empatia, disse, depende de compreender a situação do outro, o ambiente, o que está por trás do que é dito. É aí que entra a inteligência social. Não como traço 'bonito' de cultura, mas como habilidade produtiva. Se o profissional do futuro tiver mais tempo livre porque a tecnologia tirou parte do peso operacional, esse tempo tende a ser ocupado com gente, não com planilhas. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Nesse sentido, Nadella também reforçou a defesa do trabalho presencial como ferramenta de colaboração. Ele vê um mundo mais sedento por interação humana, com conferências e eventos em alta, efeito que seria ampliado pela crescente automação. Para ele, o escritório não é só um lugar físico. É um catalisador de troca. O paradoxo dos dados: menos conversa, mais bot Só que a realidade medida por pesquisas recentes não encaixa perfeitamente nessa previsão otimista. Um levantamento do Adaptavist Group mostra uma tendência inversa: 32% dos funcionários dizem falar menos com colegas por causa do uso de IA. Um quarto afirma preferir fazer small talk com bots do que com pessoas. E entre líderes, o número é semelhante. A IA está entrando também em assuntos que antes eram naturalmente humanos. Quase metade dos respondentes relatou buscar respostas em IA para dúvidas legais ou sobre políticas internas, e 41% usam a tecnologia para questões ligadas a recursos humanos. Ao mesmo tempo, aparecem sinais de erosão comportamental: 26% sentem que se tornaram menos educados depois de usar IA com frequência, e 29% temem estar perdendo habilidades por depender demais dessas ferramentas. O alerta aqui não é demonizar a tecnologia. É reconhecer que seu uso muda o clima social do trabalho. Se a IA vira o primeiro interlocutor para quase tudo, o atrito, a conversa espontânea e até a paciência com o outro podem cair. E isso afeta produtividade, cultura e retenção de talentos. O que líderes precisam ajustar agora A principal lição desse contraste é clara: treinar para IA sem treinar para convivência é deixar um buraco aberto. Empresas que querem colher ganhos reais precisam investir em dois trilhos ao mesmo tempo. Um é capacitar para usar IA de forma prática. O outro é fortalecer habilidades como escuta, clareza, colaboração e empatia. Nadella talvez esteja certo sobre o destino do trabalho. Mas os dados indicam que ele não chega sozinho. Se a IA está reduzindo conversas e gentileza no curto prazo, cabe à liderança recalibrar o sistema. A era da automação não elimina o fator humano. Ela o torna mais decisivo.