Abrir espaço para um passatempo pode ser mais produtivo, a longo prazo, do que dedicar cada hora do dia ao trabalho Em meio à rotina de empreendedores, executivos e profissionais sobrecarregados, reservar tempo para um hobby costuma parecer um luxo dispensável. Atividades como aulas de dança, clubes de leitura ou trilhas de fim de semana muitas vezes são as primeiras a serem cortadas da agenda. Mas, ao que tudo indica, essa pode ser uma decisão contraproducente. Relatos de fundadores de startups, atletas olímpicos e estudiosos mostram que, longe de serem apenas distrações, os hobbies têm impacto direto no bem-estar, na saúde mental e até na performance profissional de quem os cultiva. Hobbies e o caminho para o equilíbrio emocional A neurologista Lara Marcuse, do Icahn School of Medicine at Mount Sinai, compartilha em seu livro Self a experiência de ter iniciado aulas de piano aos 40 anos, no auge de uma carreira exigente. Tenho um trabalho muito estressante. Tocar piano me faz sentir que o mundo ainda é cheio de beleza e esperança, diz. Segundo ela, os hobbies atuam como âncoras emocionais: ajudam a aliviar a pressão excessiva que muitas vezes se concentra exclusivamente na vida profissional ou familiar. Em outras palavras, ser guitarrista de garagem ou completar uma corrida de 5 km não apenas traz prazer — oferece também um senso de identidade que vai além do trabalho. Desafios leves que mantêm o cérebro jovem Além do alívio psicológico, os hobbies têm efeitos neurológicos mensuráveis. Estudos mostram que aprender algo novo na vida adulta estimula áreas pouco usadas do cérebro, retardando o envelhecimento cognitivo e até reduzindo o risco de demência. Uma pesquisa publicada na Scientific American revelou que adultos mais velhos, ao participarem de cursos de idiomas ou dança por apenas algumas semanas, melhoraram sua memória e atenção a níveis comparáveis aos de pessoas 30 anos mais jovens. A dose certa: frequência e desafio moderado Para que os efeitos positivos se manifestem, o hobby precisa ser novo e apresentar algum grau de dificuldade. Tem que ser algo um pouco novo, um pouco difícil, recomenda Marcuse. E o mais importante: praticado com regularidade, mas sem obsessão. Mesmo para quem se considera sem tempo, a ciência é clara: abrir espaço para um passatempo pode ser mais produtivo, a longo prazo, do que dedicar cada hora do dia ao trabalho.