Empresas que querem reter talentos e manter equipes engajadas precisam mostrar maturidade: preservar o coletivo vale mais do que exaltar quem insiste em trabalhar doente Por décadas, funcionários que 'seguiam em frente' mesmo doentes eram discretamente admirados. O esforço extra, ainda que silencioso, podia render respeito de colegas e até de chefes. Hoje, esse tipo de dedicação mudou de significado. Um novo levantamento mostra que, em vez de reconhecimento, trabalhar gripado ou com febre passou a gerar irritação, desconfiança e até ressentimento no ambiente corporativo. A mudança de percepção pós-pandemia A pesquisa, encomendada pela marca de suplementos Zipfizz e realizada pela Talker Research com 2 mil trabalhadores, revela que quase um terço dos entrevistados não vê nada de admirável em comparecer ao trabalho estando doente. Apenas 25% acreditam que um chefe ainda poderia valorizar esse comportamento. O dado mais revelador: 42% disseram que sua relação com um colega pioraria caso ele aparecesse doente no escritório. Entre Millennials e Gen Z, a rejeição é ainda maior — 64% consideram essa atitude 'egoísta'. O resultado reflete um impacto direto da experiência da pandemia. Mais da metade (57%) dos participantes afirmou ter mudado sua visão sobre doença e higiene no trabalho desde a Covid-19. Hoje, 70% dizem estar mais cautelosos e 86% ficam preocupados com a própria saúde quando um colega entra espirrando ou tossindo na sala ao lado. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Não é pressão do chefe, é rejeição dos pares Curiosamente, a pressão para trabalhar doente não vem dos gestores. Apenas 22% dos empregados disseram sentir cobrança dos líderes para 'aguentar firme' mesmo com sintomas. Ou seja, a resistência atual parte dos próprios times: a ideia de que alguém possa espalhar vírus no ambiente coletivo é vista como falta de cuidado e respeito. Como resume Marcela Kanalos, porta-voz da Zipfizz: 'Os resultados refletem uma mudança cultural significativa, onde cuidar da própria saúde passou a ser mais importante do que provar resistência. O bem-estar pessoal e as relações sociais pesam mais do que mostrar sacrifício.' O debate nas redes e a pressão por novas regras Discussões no Reddit confirmam o clima de intolerância. 'Eu odeio quando as pessoas vêm trabalhar doentes. É rude e estou cansada de ficar doente por causa disso', escreveu uma usuária. Outros defendem medidas simples, como uso de máscaras ou afastamento temporário. Há também quem aponte para os empregadores: muitos criticam políticas rígidas de atestados médicos. 'Ninguém deveria precisar de uma nota do médico para justificar uma gripe. Somos adultos', comentou outra participante. Esse tipo de exigência, além de sobrecarregar o sistema de saúde, desestimula funcionários a ficarem em casa para se recuperar. Em tempos de modelos híbridos, a solução pode ser mais prática: permitir que profissionais com sintomas leves trabalhem remotamente. Lições para líderes e empresas A pesquisa da Zipfizz reforça que 'trabalhar doente' deixou de ser sinal de dedicação e passou a ser fator de desgaste. Para os líderes, a mensagem é clara: Priorizar saúde: estimular que colaboradores fiquem em casa quando não estiverem bem. Flexibilizar políticas: rever exigências burocráticas de atestados que dificultam ausências legítimas. Oferecer alternativas: adotar home office temporário ou protocolos claros de prevenção, como máscaras e distanciamento. Cuidar da cultura: reforçar que descanso e recuperação também são parte da produtividade. A era dos 'pontos extras' por sacrificar a saúde chegou ao fim. Hoje, empresas que querem reter talentos e manter equipes engajadas precisam mostrar maturidade: preservar o coletivo vale mais do que exaltar quem insiste em trabalhar doente.