Casos recentes nos estúdios de games King e Xbox mostram o custo moral e reputacional de automatizar a força de trabalho sem empatia ou transparência Que a inteligência artificial é uma tecnologia disruptiva, ninguém duvida. Também já sabemos que ela pode economizar tempo, aumentar a produtividade e automatizar tarefas repetitivas. O problema começa quando a 'eficiência' vira sinônimo de corte de pessoal — especialmente quando são os próprios funcionários que criaram as ferramentas que agora os substituem. Foi exatamente isso que aconteceu com a King, empresa responsável pelo jogo Candy Crush. Segundo a Bloomberg e o site MobileGamer.biz, a empresa anunciou recentemente a demissão de 200 colaboradores, atingindo principalmente cargos de gerência média, UX e redação de narrativa. Fontes internas revelaram ainda que os profissionais estão sendo substituídos por ferramentas de IA que eles mesmos ajudaram a desenvolver e treinar. Substituídos pela própria criação 'O time de redação está sendo completamente desmontado porque agora temos ferramentas de IA que esses profissionais ajudaram a construir', relatou um funcionário ao MobileGamer. Revoltado, ele classificou a decisão como 'absolutamente repulsiva', destacando que os cortes aconteceram apesar de a empresa estar financeiramente saudável. Dados financeiros corroboram essa afirmação: desde 2021, a King mantém receitas estáveis na casa de US$ 1,45 bilhão por ano. Ainda assim, a falta de crescimento pode estar pressionando a liderança a buscar margens de lucro maiores — mesmo que isso signifique sacrificar capital humano. O erro da Microsoft: demissões seguidas por vagas com arte gerada por IA Outro caso simbólico envolve a divisão de jogos da Microsoft. Após demitir milhares de funcionários — muitos deles da área de games — o CEO do Xbox, Phil Spencer, afirmou em e-mail interno que a empresa 'nunca esteve tão forte', com mais jogadores e jogos do que nunca. A ironia não passou despercebida: como justificar cortes em meio a um momento de crescimento? Dias depois, o líder de desenvolvimento Mike Matsel publicou novas vagas para engenheiros gráficos — mas usou uma ilustração gerada por IA para ilustrar o post. O gesto foi duramente criticado nas redes sociais, considerado insensível, sobretudo por parte de profissionais humanos especializados justamente em arte e computação gráfica. 'Demitir e depois publicar vaga com imagem feita por IA? Parabéns, Xbox', escreveu um usuário no X (antigo Twitter). Transparência importa — e muito Esses casos expõem uma lição essencial para líderes que estão adotando IA: não esconda o jogo. Se sua empresa está substituindo pessoas por tecnologia para cortar custos, seja transparente. Tentar disfarçar decisões desse tipo só piora o clima interno, destrói a confiança e mina a cultura organizacional. Mais importante: lembre-se de que eficiência não é apenas um número no Excel. Ela também está ligada à motivação, à confiança e à segurança psicológica dos profissionais que continuam na empresa. Se seus colaboradores sentem que podem ser substituídos a qualquer momento — inclusive por suas próprias criações — a produtividade não vai melhorar. Vai despencar.