Empresas que crescem de forma sustentável têm algo em comum: líderes que entendem que tempo não se multiplica A cultura empreendedora ainda exalta rotinas exaustivas, madrugadas produtivas e agendas intermináveis. Porém, por trás da glamorização do 'hustle', existe um alerta claro: boa parte dos fundadores não está esgotada por trabalhar pouco, mas por trabalhar demais no que não importa. Estudos publicados pela Harvard Business Review mostram que a sobrecarga operacional reduz clareza estratégica e compromete o crescimento sustentável. E, como ressaltam autores como Dan Martell, o problema não está no trabalho em si, mas na incapacidade de reconfigurar o papel do fundador à medida que a empresa evolui. Foi esse ponto que guiou a conversa, publicada na Inc., com Kyle Ewing, fundador e CEO da TerraSlate, referência em papéis impermeáveis e antimicrobianos. Ele conta que passou anos acreditando que precisava fazer tudo para o negócio avançar. Até perceber que era, ao mesmo tempo, a solução e o gargalo. Seu aprendizado, compartilhado no podcast Love in Action, aponta caminhos práticos para construir crescimento saudável. Entenda o seu valor real por hora Um dos conceitos centrais adotados por Kyle é o buyback rate, difundido por Dan Martell. A conta é simples: divida sua compensação anual por 8 mil, e você terá o valor real da sua hora. A partir daí, sempre que estiver dedicado a uma tarefa que valha menos do que seu buyback rate, você está reduzindo o potencial de crescimento do negócio. No caso de Kyle, isso significou terceirizar atividades operacionais, priorizar negociações estratégicas e concentrar energia no desenvolvimento de produtos. A mudança não só gerou ganhos de produtividade, como abriu espaço para decisões mais qualificadas. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção Substitua o multitasking por blocos de foco Multitarefa soa eficiente, mas a ciência mostra o contrário. Pesquisas da Harvard Business Review apontam que alternar tarefas reduz a produtividade em até 40 por cento. Kyle conta que acreditava ter um 'superpoder', até perceber que avançava menos do que imaginava. Hoje, ele organiza o dia em blocos de trabalho profundo e elimina reuniões desnecessárias. A prática aumenta clareza, reduz retrabalho e permite encerrar o expediente com a sensação concreta de progresso. Delegar é desenvolver Delegar não é abandono, e sim desenvolvimento. Kyle afirma que começou a delegar tarefas sempre que alguém da equipe conseguia executar ao menos 80 por cento tão bem quanto ele. Isso exigiu abandonar a culpa e abraçar a confiança. O resultado é uma equipe mais autônoma, decisões mais rápidas e um fluxo menos centralizado. Em vez de se tornar o ponto de estrangulamento, o fundador se transforma em catalisador de crescimento. Automatize o que for possível Quando não é possível delegar, a alternativa é automatizar ou transformar a atividade em um processo replicável. Na TerraSlate, quase todo pedido segue um fluxo padrão, o que permite enviar a maioria das encomendas no mesmo dia. Além disso, Kyle contratou um assistente para gerir sua caixa de entrada. O ganho, segundo ele, foi de até duas horas por dia. No acumulado do ano, mais de 500 horas destinadas ao que realmente importa: inovação, relacionamentos e descanso. O futuro pertence aos fundadores que protegem seu tempo Empresas que crescem de forma sustentável têm algo em comum: líderes que entendem que tempo não se multiplica. A produtividade, portanto, não é uma equação de horas trabalhadas, mas de valor criado. Ao ajustar o foco e se libertar da operação, o fundador não só preserva sua saúde, mas permite que o negócio avance sem depender exclusivamente de sua presença. Como resume Kyle, 'tempo é o único recurso que não volta'. Ao aprender a usá-lo melhor, o empreendedor abre espaço para construir negócios mais sólidos, mais inteligentes e mais humanos.