Segundo o relatório, líderes querem avançar com suas estratégias de inovação e crescimento, mas se veem travados por um cenário interno marcado por culturas organizacionais frágeis A promessa de um novo ciclo de prosperidade impulsionado pela inteligência artificial e pela recuperação econômica pós-pandemia pode dar a impressão de que este é um ótimo momento para liderar uma empresa. No entanto, uma nova pesquisa da firma de relações públicas Padilla, que atende gigantes como 3M, Cargill, Mayo Clinic e Medtronic, mostra que a realidade enfrentada pelos executivos em 2025 é bem mais complexa — e desafiadora. Segundo o relatório, os líderes querem avançar com suas estratégias de inovação e crescimento, mas se veem travados por um ambiente externo incerto e um cenário interno marcado por desconfiança e culturas organizacionais frágeis. A pesquisa mostra que fatores como tensões geopolíticas, conflitos tarifários e interrupções na cadeia de suprimentos estão ofuscando o otimismo com possíveis reduções de impostos. Desconexão entre liderança e equipe preocupa Um dos aspectos mais alarmantes do levantamento da Padilla é o descompasso entre o que os executivos acreditam sobre o clima interno e o que os funcionários realmente sentem. Enquanto metade dos líderes pensa que o bem-estar dos colaboradores melhorou no último ano, apenas 29% dos funcionários concordam. A diferença também é evidente quando o tema é a convivência política no ambiente de trabalho: 44% dos líderes acham que os debates são saudáveis; apenas 24% dos funcionários compartilham dessa visão. Esse desalinhamento se estende à adoção de tecnologias emergentes. Embora 83% dos executivos estejam promovendo o uso de inteligência artificial de forma seletiva ou agressiva, muitos funcionários enxergam a IA como uma ameaça: 24% a veem como um risco moderado ou significativo para seus empregos. Burnout na cúpula e falta de sucessores agravam cenário O estudo também revela uma alta rotatividade nas lideranças. De 2023 para 2024, houve um aumento de 7 pontos percentuais no número de executivos que decidiram se afastar de seus cargos antes do previsto — hoje, um em cada cinco líderes. As causas incluem estresse, falta de motivação e o desejo de mudar de rumo. E a sucessão preocupa: entre funcionários com 52 anos ou mais, 61% preferem manter ou até reduzir suas responsabilidades, indicando desinteresse em ocupar cargos de liderança. O fenômeno reforça tendências já observadas, como o 'unbossing' entre os trabalhadores mais jovens, que evitam se colocar como líderes. Ao mesmo tempo, a ansiedade generalizada sobre o impacto da IA no mercado de trabalho continua em alta, com quase metade dos profissionais temendo serem substituídos por máquinas. Hora de ouvir mais e liderar melhor A principal mensagem da pesquisa é clara: enquanto as lideranças querem acelerar mudanças, suas equipes ainda não estão prontas para acompanhá-las. O desafio, agora, é reconstruir a confiança interna e entender de forma profunda o que seus colaboradores sentem e esperam. Empresas que ignorarem esse abismo correm o risco de perder não apenas talentos, mas também a capacidade de inovar com solidez. Em tempos de transformações rápidas, ouvir — e agir a partir do que se ouve — pode ser o maior diferencial competitivo.