Para empreendedores e executivos, a escolha é clara. Permanecer calado não é neutralidade: é reforçar a ideia de que salvar o planeta é um desejo de poucos O ano de 2025 tem sido desanimador para quem se preocupa com as mudanças climáticas. O governo Trump, abertamente cético sobre o tema, iniciou um amplo processo de reversão de políticas ambientais: fim de incentivos a energias renováveis, divulgação de relatórios com ciência duvidosa e até a retirada, pela segunda vez, do Acordo de Paris. Para muitos, a conclusão parece óbvia: os norte-americanos estariam alinhados ao ceticismo climático de seu presidente. Mas será que isso é verdade? Pesquisas recentes sugerem o contrário: a percepção de que a maioria das pessoas não acredita nas mudanças climáticas é um mito que, além de falso, alimenta o silêncio e o isolamento dos que se preocupam com o tema. O perigo das percepções distorcidas Esse fenômeno não se restringe ao debate ambiental. Estudos sobre diversidade, equidade e inclusão (DEI) já mostraram que, embora a maioria dos americanos apoie práticas básicas de inclusão, muitos acreditam que seus pares são contrários ao tema. O resultado é um ciclo vicioso: por acharem que estão em minoria, defensores da diversidade se calam, o que reforça a falsa impressão de que o assunto é impopular. O mesmo processo ocorre com o clima. Quando acreditamos que vizinhos, colegas ou líderes não compartilham nossas preocupações ambientais, deixamos de falar sobre elas. E esse silêncio contribui para perpetuar a ideia equivocada de que céticos climáticos são maioria. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção A realidade: bem menos céticos do que parece A pesquisadora Sandra Geiger, hoje em Princeton, decidiu investigar essa percepção distorcida em escala global. Seu estudo, publicado na revista Psychological Science, ouviu 3.500 pessoas em 11 países. O resultado foi claro: a maioria reconhece que as mudanças climáticas são reais e causadas pela ação humana, mas subestima drasticamente o número de conterrâneos que pensam da mesma forma. 'Para mim, o mais surpreendente foi o quanto essas percepções equivocadas são generalizadas. Elas apareceram em todos os países analisados', afirmou Geiger. Em outras palavras, não estamos falando de um fenômeno localizado, mas de uma distorção global da percepção pública. Por que o silêncio importa Nos Estados Unidos, essa desconexão é particularmente relevante. Embora os discursos políticos sugiram uma nação cética, os dados mostram que a maioria da população está preocupada com o futuro do planeta. O problema é que muitos acreditam que estão sozinhos nesse sentimento — e, por isso, evitam se manifestar. Esse comportamento, conhecido como 'climate silence', dificulta a construção de consensos e reduz a pressão por mudanças efetivas. Como ressaltou Geiger, 'é importante que as pessoas falem e façam suas opiniões serem ouvidas sobre o tema'. O papel das empresas e líderes Assim como acontece com políticas de diversidade, empresas não apenas refletem a opinião pública: elas a moldam. Quando líderes corporativos se posicionam, legitimam conversas que pareciam marginalizadas. Quando ficam em silêncio, reforçam a impressão de que se preocupar com o planeta é uma posição rara ou até radical. Para empreendedores e executivos, a escolha é clara. Permanecer calado não é neutralidade: é reforçar a ideia de que salvar o planeta é um desejo de poucos. Falar, por outro lado, ajuda a quebrar o ciclo da desinformação e a criar o espaço necessário para mudanças reais. No fim, a lição é simples: há muito mais pessoas preocupadas com o clima do que imaginamos. Mas, se todos continuarem em silêncio, esse consenso invisível continuará parecendo uma minoria inexistente.