De um garoto curioso no interior a ícone da indústria musical, Seizi Tagima construiu uma história que mistura técnica, sensibilidade e propósito Irrequieto, curioso e dono de uma visão singular, Seizi Tagima é uma das figuras mais emblemáticas da história da música no Brasil. Aos 74 anos, o luthier e empreendedor carrega mais de quatro décadas dedicadas à arte de fabricar instrumentos que se tornaram lendas nas mãos de grandes músicos. Sua trajetória é um exemplo vivo de como disciplina, persistência e humildade — valores herdados da cultura japonesa — podem transformar talento em legado. Filho de imigrantes japoneses, Seizi cresceu no interior de São Paulo, ajudando a família na agricultura até a morte do pai. A mudança para a capital paulista marcou o início de uma nova fase. Trabalhou com vendas e eletrônicos, mas sua curiosidade o levava além: desmontava aparelhos, consertava motores e criava versões modificadas de motocicletas. Até que um dia, ao consertar uma moto para um vizinho, recebeu como pagamento uma guitarra quebrada — e o acaso virou destino. O nascimento de um luthier Incomodado com o som do instrumento, Seizi decidiu ajustá-lo por conta própria. O resultado deu tão certo que logo passou a pintar e restaurar guitarras para amigos músicos. A fama se espalhou rapidamente: 'o japonês que pintava guitarras como ninguém' virou referência. A paixão pela mecânica e o fascínio pelos detalhes o levaram a estudar a fundo a construção de instrumentos. Em pouco tempo, Seizi deixou de apenas reformar para criar suas próprias guitarras. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O surgimento da Tagima Em 1986, nascia oficialmente a Tagima, marca que revolucionaria o mercado nacional. Suas guitarras, produzidas com qualidade e preço acessível, ocuparam um espaço inédito entre os modelos importados e as opções nacionais de baixo custo. Nos anos 1990, o nome Tagima já era sinônimo de confiança — empunhado por artistas como Herbert Vianna, Kiko Loureiro, Andreas Kisser, Edu Ardanuy e Bento Hinoto, dos Mamonas Assassinas. Mas o sucesso não veio sem desafios. As dificuldades administrativas quase levaram a empresa à falência, até a entrada do empresário Ney Nakamura, que reestruturou o negócio e comprou a marca em 1996. A partir daí, a Tagima se tornou uma das maiores fabricantes de instrumentos da América Latina e conquistou o mundo. Um novo começo: a marca Seizi Mesmo após vender a marca que levava seu nome, Seizi não abandonou o ofício. Em 2009, uniu-se à Royal Music e deu início a uma nova fase, criando instrumentos com assinatura própria: Seizi Guitars. As linhas batizadas com nomes japoneses — como Katana, Ryu e Fuji — refletem não apenas o cuidado estético, mas também a filosofia oriental de melhoria contínua, o kaizen. Hoje, mesmo após enfrentar um AVC, o mestre luthier segue ativo, projetando novos modelos e inspirando gerações. Com mais de 260 mil seguidores nas redes, sua marca é a maior do segmento no Instagram brasileiro. O legado de um verdadeiro samurai De um garoto curioso no interior a ícone da indústria musical, Seizi Tagima construiu uma história que mistura técnica, sensibilidade e propósito. Seu maior orgulho é simples: 'Faço para os clientes o que faria para mim mesmo. Tenho respeito por cada detalhe, por cada criação.' Seizi é, sem dúvida, um samurai moderno — disciplinado, criativo e incansável na busca pela perfeição sonora.