Margens saudáveis não vêm de um aumento mágico de preço. Elas vêm de clareza, foco e consistência Alguns negócios vivem um paradoxo difícil de admitir: o caixa entra, as vendas crescem, a operação parece girar, mas o lucro não acompanha. A empresa trabalha mais e respira menos. Em geral, a primeira reação é buscar mais volume, como se vender ainda mais resolvesse. Só que, quando a margem está doente, volume vira amplificador de problema: aumenta esforço, aumenta custo e mantém a mesma fragilidade no fim do mês. Empresas que priorizam crescimento de receita sem disciplina de margem tendem a sofrer com complexidade operacional, retrabalho e perda de foco estratégico. Decisões comerciais, quando desconectadas de custos e capacidade real de entrega, criam um tipo de crescimento que parece saudável por fora, mas corrói o negócio por dentro. Quando volume vira anestesia É comum confundir movimento com saúde. A equipe comemora contratos, o pipeline está cheio e o marketing parece funcionar. Mas, nos bastidores, a operação está apertada, as horas extras aumentam e o suporte vira rotina de urgência. Você já se pegou pensando que 'depois que bater a próxima meta, a gente organiza'? Esse 'depois' costuma nunca chegar, porque o volume consome o tempo que seria usado para ajustar o sistema. O que aparece, então, é um padrão: descontos para fechar rápido, escopo que cresce sem controle, prazos apertados para 'não perder o cliente', serviços adicionais não cobrados para evitar atrito. Cada concessão isolada parece pequena. Somadas, elas viram um modelo de Negócios com margem frágil, dependente de esforço extra para manter a promessa. A margem que morre em silêncio Margem não cai apenas por custos diretos. Ela cai por pequenas ineficiências repetidas: reuniões demais para destravar, decisões sem dono, retrabalho por falta de briefing, mudança constante de prioridade, falhas de comunicação entre áreas. Tudo isso custa horas, energia e clima. E custa dinheiro, mesmo quando não aparece como linha clara na planilha. Outro vilão é a complexidade. Quando a empresa aceita qualquer tipo de cliente e qualquer tipo de projeto, ela cria um portfólio que exige múltiplos processos, múltiplas exceções e múltiplas formas de atender. A equipe passa a 'inventar' entrega toda semana. A margem sofre porque o negócio perdeu padrão. Como recuperar margem sem travar crescimento O primeiro passo é medir o que realmente importa: margem por produto, por canal e por tipo de cliente. Não é apenas receita. É receita menos custo real de servir, incluindo tempo da equipe e retrabalho. Quando essa conta fica visível, decisões mudam. Você descobre onde ganha dinheiro de verdade e onde só está comprando faturamento com desgaste. O segundo passo é criar critérios de venda. Quem é o cliente certo? Qual escopo é padrão? Qual exceção tem preço? Qual é a margem mínima aceitável? Critério reduz ansiedade e evita o 'sim' automático. E aqui entra uma pergunta útil para o líder: eu estou negociando com o cliente ou com o meu medo de perder? No fim, margens saudáveis não vêm de um aumento mágico de preço. Elas vêm de clareza, foco e consistência. Um negócio forte não é o que vende mais a qualquer custo. É o que consegue crescer sem se desorganizar por dentro. Se você está vendendo bem e lucrando mal, talvez não falte demanda. Talvez falte critério para escolher o que vale a pena sustentar.