Quando líderes tratam pessoas como pessoas, a eficiência deixa de ser um discurso e se torna uma consequência Administrar uma empresa ficou mais difícil — e não apenas por questões financeiras. É o que revela a segunda edição do Business Owners Report, da isolved, baseada em respostas de 2.032 donos, fundadores e CEOs nos Estados Unidos. Segundo o estudo, 76% afirmam que gerir um negócio se tornou mais complexo no último ano, um salto expressivo em relação aos 52% registrados no levantamento anterior. Embora métricas de lucro e pressão por resultados continuem no radar, o principal desafio hoje é humano. O relatório mostra que 82% dos empresários estão mais preocupados com o bem-estar dos funcionários. O motivo é claro: 79% dos trabalhadores relatam burnout, e colaboradores esgotados têm 35% mais chances de procurar um novo emprego. A mensagem do estudo é direta. Cuidar das pessoas deixou de ser apenas um valor moral e passou a ser um fator crítico para construir equipes resilientes, engajadas e produtivas. Pessoas não são cargos Quase todos os empresários ouvidos (99%) planejam investir mais em iniciativas de bem-estar, com foco especial em saúde financeira. O dado faz sentido, já que 42% dos funcionários apontam o salário como principal motivo para buscar outro emprego. Mas o relatório alerta que remuneração, sozinha, não sustenta engajamento. Encarar o trabalho apenas como troca de tempo por dinheiro é uma lógica ultrapassada. Funcionários querem ser vistos como pessoas completas, não apenas como ocupantes de uma função. Quando isso não acontece, a rotatividade aumenta. Flexibilidade aparece como um fator decisivo. Para 46% dos trabalhadores, a possibilidade de modelos híbridos ou remotos é um forte incentivo para mudar de emprego, superando até o salário. Além disso, 26% citam benefícios flexíveis como diferencial importante. 'Quando dominam benefícios e flexibilidade, os empregadores demonstram o quanto se importam', afirma Amy Mosher, Chief People Officer da isolved. 'O problema é que muitos ainda ficam aquém. Trinta e nove por cento dos funcionários esperam por mais flexibilidade, e 72% dizem que a experiência com benefícios é estressante. Enquanto essas lacunas existirem, talentos continuarão saindo.' Combater o burnout exige propósito e prática O burnout segue corroendo a cultura organizacional e seus efeitos vão além do clima interno. Ele afeta engajamento, experiência do cliente e até a segurança da informação. Os empresários identificam a falta de propósito como o principal fator de esgotamento (24%). De fato, colaboradores que enxergam significado no que fazem tendem a se engajar mais e permanecer por mais tempo. Mas os funcionários são claros sobre o que ajuda, na prática, a evitar o burnout: 48% pedem ambientes de trabalho flexíveis e 43% querem limites claros para comunicações fora do expediente. 'O propósito só se sustenta quando vem acompanhado de condições reais', destaca Mosher. 'Flexibilidade, respeito ao tempo pessoal e ferramentas para gestão do trabalho são essenciais para que o significado volte a fazer parte da rotina.' A ascensão da liderança humana Outro dado relevante do estudo é a mudança no papel dos líderes. Hoje, 95% dos empresários dizem estar profundamente envolvidos com temas de RH e experiência do colaborador, contra 79% no ano anterior. A razão é simples: eles passaram a entender que a experiência no trabalho importa. Esse movimento reforça a ideia de liderança humana, que rejeita a lógica tóxica de 'eficiência a qualquer custo' e aposta em empatia, escuta e cuidado como pilares estratégicos. Liderar com empatia não significa abrir mão de resultados. Pelo contrário. Funcionários que se sentem respeitados, apoiados e valorizados tomam decisões melhores, trabalham com mais clareza e permanecem alinhados aos objetivos do negócio. No fim, a equação é simples: quando líderes tratam pessoas como pessoas, a eficiência deixa de ser um discurso e se torna uma consequência.