Com pouco mais de 1,30m de altura e movimentos fluidos, o robô humanoide G1 viralizou nas redes sociais com vídeos dançando e simulando artes marciais Em uma manhã ensolarada na feira Hannover Messe, na Alemanha, o robô G1 da empresa chinesa Unitree chama atenção. Com pouco mais de 1,30m de altura e movimentos surpreendentemente fluidos, o robô humanoide viralizou nas redes sociais com vídeos dançando e simulando artes marciais. Mas, por trás do carisma e da tecnologia impressionante, o G1 representa um avanço estratégico de um setor que está se transformando — e se preparando para um futuro mais automatizado. Embora ainda esteja longe de realizar tarefas domésticas, como lavar roupa ou arrumar a cozinha, o G1 já está sendo testado por centros de pesquisa e empresas de tecnologia que utilizam seu software de código aberto. Seu preço relativamente acessível, de US$ 16 mil, destaca a China como protagonista em um mercado que deve crescer rapidamente nas próximas décadas. Desafios fora do ambiente industrial Apesar dos avanços, levar robôs humanoides para ambientes imprevisíveis, como restaurantes ou casas, é uma tarefa complexa. As máquinas precisam ser fortes o suficiente para realizar tarefas físicas, mas também seguras — uma queda no momento errado pode ser perigosa. Além disso, a inteligência artificial que comanda esses robôs ainda está longe de alcançar uma capacidade de raciocínio lógico suficiente para lidar com situações reais do cotidiano. 'A IA atual ainda não teve um momento de ruptura', afirmou a Unitree à BBC. Segundo a empresa, compreender e realizar tarefas complexas de maneira lógica continua sendo um grande desafio para os sistemas autônomos. Enquanto isso, robôs para fábricas ganham tração Diante dessas limitações, a maior parte do desenvolvimento atual está focada em ambientes controlados — como fábricas e armazéns. Elon Musk, por exemplo, afirmou que 'milhares' de robôs Optimus, da Tesla, estarão operando em suas linhas de produção ainda este ano. A BMW já testou robôs humanoides em fábricas nos EUA, e a Hyundai, que comprou a Boston Dynamics em 2021, encomendou dezenas de milhares de unidades para suas operações. A pesquisa da STIQ, consultoria especializada em tecnologia, acompanha 49 empresas que desenvolvem robôs humanoides completos. Quando a definição é ampliada para incluir robôs com braços, mas que se movem sobre rodas, esse número passa de 100 — com a maioria concentrada na Ásia. China lidera com infraestrutura e investimento De acordo com Thomas Andersson, fundador da STIQ, a China está à frente por reunir toda a cadeia produtiva necessária, com facilidade de acesso a componentes e forte apoio governamental. Em Xangai, por exemplo, existe um centro estatal onde robôs aprendem tarefas práticas em um ambiente de treinamento controlado. No Ocidente, empresas como a britânica Kinisi estão tentando competir apostando em robôs mais simples e funcionais. O KR1, recém-lançado pela empresa, não tem pernas, mas é ideal para armazéns com pisos planos. Com peças reaproveitadas de patinetes elétricos e componentes de prateleira, o robô pode aprender tarefas com apenas 20 a 30 demonstrações humanas. 'O segredo está no software', diz o fundador Bren Pierce. 'Queremos um robô simples, que qualquer trabalhador de fábrica consiga aprender a usar em poucas horas.' Robôs em casa? Ainda vai demorar Mesmo os mais entusiastas reconhecem que os robôs domésticos multifuncionais ainda estão distantes. 'Meu sonho há 20 anos é o robô que faz tudo. Mas ainda estamos a pelo menos 10 ou 15 anos disso', afirma Pierce. Até lá, os humanoides continuarão evoluindo dentro das fábricas — enquanto observamos de perto os primeiros passos dessa revolução mecânica com um toque cada vez mais humano.