Reconstruir confiança após um corte exige muito mais do que frases de efeito. Pede presença, clareza e coerência entre discurso e prática Para muitas empresas, cortes de pessoal parecem uma solução rápida para aliviar a pressão financeira. Mas os efeitos vão muito além da planilha: o que fica depois de uma demissão em massa é um ambiente de ansiedade, ressentimento e sobrecarga de trabalho. Os que permanecem carregam o peso da incerteza. As conversas mudam, o silêncio cresce, e perguntas como 'será que meu emprego está seguro?' começam a corroer a confiança. O resultado aparece em prazos perdidos, engajamento em queda e críticas anônimas em sites como o Glassdoor. O que não dizer Na tentativa de acalmar ânimos, muitos líderes recorrem a frases feitas que soam insensíveis. 'Somos uma família' é uma delas. Como lembra Leigh Henderson, fundadora da HR Manifesto, 'famílias não fazem demissões em massa via Zoom'. O mesmo vale para a expressão 'você tem sorte de ainda ter um emprego'. Essa abordagem, segundo a coach Patrice Williams-Lindo, transforma a gratidão em culpa e afasta quem deveria ser retido. Outro equívoco comum é justificar cortes como 'apenas uma decisão de negócios'. Embora seja verdade, a frieza da frase ignora o impacto humano. Para Henderson, a mensagem necessária é outra: reconhecer a dor, assumir responsabilidade e, só então, explicar os próximos passos. Ver todos os stories 6 hábitos que sabotam seu crescimento O nordestino que ousou fazer o impossível O que está em jogo com a 'PEC da Blindagem' Uma verdade sobre suas assinaturas de streaming que você não vê Boninho, The Voice e a lição da reinvenção O que fazer Reconstruir confiança não depende de discursos ensaiados, mas de ações consistentes. Henderson recomenda começar pela visibilidade: 'Faça questão de aparecer, caminhar pelos corredores, participar das reuniões. Não terceirize conversas difíceis.' Comunicação também precisa ser constante. Informar regularmente, mesmo que não haja novidades, reduz rumores e transmite clareza. Além disso, é fundamental lidar de frente com a redistribuição do trabalho: não se pode esperar que equipes menores façam mais com menos sem recursos adequados. Outro ponto é normalizar sentimentos difíceis. Criar espaço para a tristeza, a raiva e as dúvidas é essencial para a cicatrização cultural. 'Tentar impor positividade tóxica só aumenta a desconfiança', diz Henderson. O papel dos gestores de linha de frente Os líderes imediatos são o elo mais importante no pós-demissão, mas muitas vezes ficam desamparados. Oferecer a eles guias práticos de comunicação, treinamentos em inteligência emocional e sessões recorrentes de apoio evita que transmitam insegurança. Como resume Henderson: 'Se o gestor não se sente amparado, como poderá apoiar sua equipe?' Medindo o progresso A recuperação da confiança não acontece de um dia para o outro. Mas alguns sinais mostram avanço: quando as pessoas voltam a falar em reuniões, quando críticas construtivas reaparecem, quando equipes mostram energia criativa e colaborativa. Isso indica que acreditam novamente que alguém está ouvindo — e agindo. Liderança real, não retórica No fim, reconstruir confiança após um corte exige muito mais do que frases de efeito. Pede presença, clareza e coerência entre discurso e prática. Como lembra Henderson: 'As pessoas não querem perfeição. Querem honestidade, respeito e prova de que a liderança continua presente quando as coisas ficam difíceis.' Fazer isso não apenas restaura a confiança: pode fortalecê-la.