Apesar de todo o impacto cultural gerado por Chaves, a falta de competências empresariais essenciais impediu que o projeto alcançasse seu verdadeiro potencial O sucesso de Chaves atravessou décadas e fronteiras, marcando gerações em toda a América Latina. Criado por Roberto Gómez Bolaños, o programa se tornou um fenômeno cultural, mas acabou perdendo força ao longo do tempo — não por falta de audiência, mas por conflitos internos, disputas jurídicas e ausência de estratégias empresariais sólidas. Especialistas em gestão apontam que, com certas competências empresariais, o universo criado por Bolaños poderia ter se transformado em uma das maiores franquias midiáticas do mundo. Falta de contratos claros comprometeu direitos e expansão Um dos principais entraves para a longevidade da série foi a disputa pela propriedade intelectual dos personagens. Sem contratos bem definidos, integrantes do elenco como Carlos Villagrán (Quico) e María Antonieta de las Nieves (Chiquinha) acabaram entrando em conflitos com o criador da série. A ausência de uma estrutura jurídica sólida comprometeu não apenas as relações pessoais, mas também as possibilidades de expansão do conteúdo em forma de spin-offs ou produtos licenciados. Liderança centralizada impediu colaborações duradouras A centralização das decisões em Bolaños, sem uma liderança colaborativa, foi outro fator limitante. Faltou gestão de talentos, mediação de conflitos e valorização dos demais criadores e atores. Isso gerou ressentimentos, afastamentos e impediu que a equipe crescesse junta, com objetivos comuns. Ausência de governança limitou o potencial da marca Com um modelo de gestão concentrado em uma única figura, a série perdeu a chance de se transformar em um negócio coletivo, como ocorre com grandes franquias. Uma governança participativa, com divisão clara de responsabilidades e lucros, poderia ter incentivado todos os envolvidos a investir no crescimento do projeto a longo prazo. Universo expandido ficou só na imaginação A falta de uma estratégia de branding e gestão de franquias também prejudicou o legado da série. Ideias como um spin-off do Quico, animações modernas do Chapolin ou até novos personagens dentro da vila poderiam ter dado origem a um verdadeiro universo Chespirito, com produtos audiovisuais, licenciamentos, jogos e brinquedos. Tudo isso foi limitado por desacordos entre os criadores e a ausência de um plano de negócios robusto. Conflitos mal resolvidos afetaram a imagem da série As disputas públicas entre os atores e os embates judiciais desgastaram a imagem do grupo. Com uma estrutura de mediação de conflitos e uma cultura organizacional voltada para o diálogo, seria possível preservar as relações pessoais e profissionais, garantindo uma trajetória mais harmônica. Oportunidades internacionais foram desperdiçadas Com exibição em dezenas de países e fãs em todo o mundo, Chaves tinha o potencial para se tornar uma franquia global. No entanto, a ausência de visão estratégica e de uma equipe focada em desenvolvimento de negócios limitou essa internacionalização. Muitos países deixaram de exibir o programa por falta de acordos entre os detentores de direitos. Legado enfraquecido por falta de sucessão Após a morte de Bolaños, a ausência de uma estrutura institucional para cuidar da marca resultou no enfraquecimento do legado. A criação de uma fundação ou instituto Chespirito poderia ter garantido a continuidade da produção de conteúdos, a proteção da propriedade intelectual e a modernização da marca para novas gerações. Um império que poderia ter ido mais longe Apesar de todo o impacto cultural gerado por Chaves, a falta de competências empresariais essenciais impediu que o projeto alcançasse seu verdadeiro potencial. Com contratos bem estruturados, liderança compartilhada, estratégias de branding e visão de longo prazo, o universo de Chespirito poderia estar hoje ao lado de franquias globais como Star Wars e Marvel. Fica a lição: até mesmo obras geniais precisam de gestão para prosperar.