O índice do dólar, que mede a moeda frente a uma cesta de divisas internacionais, está próximo de seu menor nível em três anos Enquanto os efeitos da guerra comercial conduzida pelo presidente Donald Trump nos mercados de ações e títulos têm sido amplamente discutidos, um impacto menos visível — mas potencialmente mais significativo — vem ganhando atenção: a queda acentuada do dólar americano. O índice do dólar, que mede a moeda frente a uma cesta de divisas internacionais, está próximo de seu menor nível em três anos, um movimento considerado anômalo em meio à atual volatilidade do mercado. Historicamente, o dólar é visto como porto seguro em tempos de incerteza, o que torna seu enfraquecimento ainda mais surpreendente — especialmente considerando que o S&P 500 ainda acumula uma queda de 13% em relação às máximas recentes, apesar de uma semana excepcional de recuperação. A confiança global no dólar está enfraquecendo? Especialistas sugerem que a atual desvalorização reflete uma mudança de sentimento por parte de investidores internacionais em relação à atratividade dos Estados Unidos. Entre tarifas agressivas e o aumento da dívida nacional, o país deixou de parecer um destino seguro para parte dos investidores estrangeiros, que dependem do dólar como moeda de reserva. George Saravelos, chefe global de pesquisa cambial do Deutsche Bank, alertou que o apetite internacional pela moeda americana vem diminuindo — o que, se mantido, pode minar a capacidade de Washington de financiar seus déficits fiscais. Já a Capital Economics, em nota intitulada 'Como perder o status de porto seguro em 10 dias', afirmou que não é mais exagero questionar o papel dominante do dólar, mesmo reconhecendo que os efeitos de rede que sustentam sua liderança devem perdurar por algum tempo. Políticas comerciais como catalisadoras A queda do dólar ocorre em paralelo à política tarifária da Casa Branca. A intenção declarada do governo Trump sempre foi impulsionar as exportações americanas — algo que um dólar fraco favorece. No entanto, o uso de tarifas como instrumento para alcançar esse objetivo pode ter causado efeitos colaterais não planejados. Antes da escalada protecionista, o consenso entre analistas era de que as tarifas impulsionariam a inflação doméstica, exigindo uma política monetária mais restritiva, o que normalmente fortalece o dólar. No entanto, o movimento cambial indica que os mercados podem estar interpretando as tarifas como um sinal de fragilidade fiscal e geopolítica, ao invés de resiliência econômica. Riscos para o status de moeda de reserva A perda de confiança no dólar como reserva de valor tem implicações profundas para a economia global. Embora sua hegemonia não esteja ameaçada de imediato, analistas alertam que uma desvalorização prolongada pode incentivar bancos centrais e governos a diversificarem suas reservas, acelerando o uso de outras moedas — como o euro ou o yuan — em transações internacionais. Apesar da expectativa de alguma recuperação no médio prazo, o episódio expõe a vulnerabilidade do dólar frente a mudanças na política econômica e na percepção internacional. A forma como os EUA conduzem sua política externa e fiscal nos próximos meses pode ser decisiva para restaurar — ou corroer ainda mais — a confiança global em sua moeda.