Em tempos em que privacidade e contexto importam cada vez mais, tornar pública uma conversa pessoal com uma inteligência artificial talvez não seja o tipo de inovação que os usuários estavam pedindo Imagine abrir um aplicativo para conversar com uma inteligência artificial — e, ao invés de manter seu papo em sigilo, você vê uma linha do tempo repleta de conversas alheias com o mesmo chatbot, incluindo perguntas sobre saúde, direito e até tartarugas doentes. Foi exatamente isso que aconteceu com o lançamento do novo app da Meta: uma mistura de assistente virtual e rede social de prompts compartilhados. A empresa de Mark Zuckerberg lançou nesta semana o app Meta AI, que substitui o antigo 'Meta View' (usado pelos óculos Ray-Ban da marca) e funciona como um assistente de IA independente, concorrente direto do ChatGPT. O app está disponível para qualquer usuário — com ou sem os óculos — e traz funcionalidades típicas: responder perguntas, gerar imagens, manter conversas e mais. Mas o que realmente chama atenção é o feed público de interações com a IA, algo que remete mais a uma rede social do que a um assistente virtual. No tal feed, é possível ver interações compartilhadas por outros usuários — como imagens geradas por prompts engraçados (Darth Vader tomando sorvete, por exemplo), mas também mensagens que parecem sérias demais para um ambiente público. Entre os conteúdos vistos por quem testou o app estão perguntas sobre medicações para mulheres na pós-menopausa, conselhos legais sobre demissões, problemas com planos de saúde e dúvidas veterinárias. Ainda que o compartilhamento dessas conversas no feed seja opcional (há um botão de 'share' específico), a impressão é que muitas pessoas não têm plena noção de que estão postando publicamente. Qual o propósito de um feed público de chats com IA? A Meta diz que o objetivo é promover o aspecto social da IA. Em seu blog oficial, a empresa afirma que o 'Discover feed' foi criado para 'conectar você com pessoas e coisas de que você gosta', permitindo que usuários vejam prompts criativos uns dos outros e até os 'remixem' para gerar novas ideias. Na prática, porém, a proposta causa mais estranhamento do que engajamento. O modelo de feed social baseado em interações com inteligência artificial ainda soa forçado — especialmente quando envolve o risco de exposição de dados sensíveis. E mesmo quando os usuários compartilham voluntariamente, ver interações genéricas ou imagens sem contexto de completos desconhecidos não parece ser algo que estimule a curiosidade do público. Uma rede social de prompts? A aposta da Meta parece ser transformar a IA em algo tão social quanto o Instagram ou o Facebook — mas, até agora, falta um motivo claro para que alguém queira navegar por um feed de conversas entre desconhecidos e uma máquina. Se a promessa era fazer da IA uma ponte entre pessoas, a execução, ao menos neste primeiro momento, parece estar mais próxima de um experimento confuso do que de uma revolução digital. Em tempos em que privacidade e contexto importam cada vez mais, tornar pública uma conversa pessoal com uma inteligência artificial talvez não seja o tipo de inovação que os usuários estavam pedindo. E se o objetivo era criar engajamento social, talvez seja melhor voltar às fotos de gatinhos — ou, no mínimo, de humanos reais.