Investidor foi categórico ao apontar duas áreas que devem ser diretamente afetadas pelas novas tecnologias: o direito e o recrutamento A promessa de que a inteligência artificial (IA) irá apenas complementar o trabalho humano, e não substituí-lo, pode estar com os dias contados. Pelo menos é o que acredita o investidor Victor Lazarte, sócio da Benchmark, uma das mais influentes firmas de capital de risco do Vale do Silício — com nomes como Uber, Snap e WeWork no portfólio. 'Grandes empresas dizem que a IA não está substituindo pessoas, está aumentando elas. Isso é uma grande mentira', afirmou Lazarte em episódio do podcast Twenty Minute VC, divulgado nesta segunda-feira (15). 'Está substituindo totalmente', completou. Duas profissões na mira: advogados e recrutadores Durante a conversa, o investidor foi categórico ao apontar duas áreas que devem ser diretamente afetadas pelas novas tecnologias: o direito e o recrutamento. Segundo ele, estudantes de direito deveriam se perguntar o que poderão fazer dentro de três anos que uma IA ainda não consiga — e, segundo ele, essa lista não será muito longa. 'Os jovens advogados fazem o trabalho braçal da profissão, e essa é exatamente a parte que as IAs estão prestes a eliminar', afirmou. No setor jurídico, ferramentas de IA já estão sendo usadas para automatizar análise de documentos, revisão de contratos e até simulações de argumentações jurídicas. No campo do recrutamento, Lazarte também prevê uma transformação acelerada. Ele acredita que agentes virtuais serão em breve melhores do que humanos para realizar entrevistas, selecionar currículos e coordenar o processo seletivo — tudo de forma mais rápida e precisa. A substituição já começou O que antes parecia uma previsão distante, já está em andamento. Em março deste ano, a startup OptimHire arrecadou US$ 5 milhões com a proposta de substituir recrutadores humanos por agentes de IA. A empresa afirma que sua tecnologia consegue encontrar candidatos, fazer entrevistas iniciais e agendar etapas do processo com os gestores de contratação. No setor jurídico, durante uma conferência recente de tecnologia jurídica, um advogado da tradicional Covington & Burling chegou a declarar que 'advogados são dinossauros' e que aprender a usar IA 'é imperativo para o sucesso'. Trilhando o caminho para empresas ultraleves Para Lazarte, os ganhos de eficiência não se limitam à substituição de profissionais. Ele prevê o surgimento de empresas trilionárias com equipes mínimas, baseadas em automação massiva. 'Você terá empresas valendo trilhões operadas por times muito pequenos', disse. 'As pessoas que têm ações ficarão mais ricas, os fundadores ficarão muito mais ricos.' Esse novo cenário, porém, também traz riscos. O investidor alerta para o potencial 'altamente desestabilizador' da concentração de valor nas mãos de poucos e o aprofundamento da desigualdade. Segundo ele, as tecnologias poderão liberar enormes benefícios econômicos — mas também gerar novos desequilíbrios sociais. Obediência às máquinas? O impacto da IA, segundo Lazarte, vai muito além do ambiente de trabalho. Ele prevê o surgimento de aplicativos que poderão orientar todos os aspectos da vida cotidiana. 'Em breve teremos um app que vai nos dizer o que fazer o dia inteiro — e vamos adorar isso', disse. 'Vamos nos tornar obedientes às máquinas.' As declarações de Lazarte alimentam um debate cada vez mais intenso sobre o papel da IA na sociedade. Enquanto empresas divulgam seus avanços com promessas de produtividade e inclusão, críticos alertam para os riscos de automação em larga escala sem a devida proteção para trabalhadores e estruturas sociais. O embate entre eficiência e equidade, ao que tudo indica, está apenas começando.